Agarre sua pipoca: novo suspense da Netflix vai prender seu olhar até o último segundo Andrej Vasilenko / Netflix

Agarre sua pipoca: novo suspense da Netflix vai prender seu olhar até o último segundo

A expressão “Tempo é dinheiro” é a premissa de “Paraíso”, um thriller de ficção científica alemão, dirigido por Boris Kunz (que coescreveu o roteiro), Tomas Jonsgården e Indre Juskute. Os méritos do texto também são de Peter Kocyla e Boris Kunz. O filme se passa em um futuro não muito distante e distópico. A tecnologia já levou a humanidade para caminhos assombrosos e, agora, uma empresa multibilionária chamada Aeon consegue transferir tempo de vida de uma pessoa para outra.

Assim como no longa-metragem de Andrew Niccol, “O Preço do Amanhã”, esse comércio de tempo não é uma troca justa. Há diversas implicações morais neste negócio. Além de tudo, ela acentua as injustiças sociais. Isso, claro, porque os mais pobres se veem obrigados a abrir mão de boa parte de suas vidas em troca de dinheiro para pagar suas dívidas, enquanto os mais abastados acumulam juventude e riqueza.

No enredo de “Paraíso”, acompanhamos o jovem casal Max e Elena. Max trabalha para a própria Aeon e é uma estrela em ascensão na empresa. Ele é um dos que mais conseguem convencer pessoas de “doarem” seu tempo de vida em troca de uma boa quantia de dinheiro. Assim como um trabalhador de classe média de nosso próprio mundo extracinematográfico, Max acredita que o negócio da Aeon não é questionável. Afinal de contas, doa o tempo quem quer. Além do mais, todos são beneficiados, já que quem vende seus anos de vida recebe bastante grana por isso.

Mas ele passa a enxergar a verdadeira face monstruosa desse capitalismo que suga literalmente a vida  dos mais pobres, quando seu apartamento pega fogo e o seguro se nega a pagar pelos danos, alegando negligência. Então, Max e Elena precisam arcar com os prejuízos, uma dívida que eles jamais teriam condições de pagar. Então, Elena se vê obrigada a doar 40 anos de sua vida.

As consequências são maiores do que Max e Elena poderiam prever. Com ela envelhecendo rapidamente, Max a vê definhando, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Elena começa a se sentir depressiva e a não querer sair mais da cama. Conforme os dias passam e Max vê o amor de sua vida esvaindo de seu corpo físico, ele toma decisões nas quais não poderá mais voltar atrás.  Além de quebrar algumas leis, Max também quebra alguns de seus próprios valores morais e éticos para poder devolver para Elena sua juventude.   

Até pouco mais da metade do filme, o ritmo segue lento e arrastado, mas a premissa nos mantém interessados. Neste século 21, a tecnologia avançou de forma tão veloz e voraz que nossas previsões para os próximos anos podem sequer chegar perto de tudo que há de surgir. “Paraíso” parece se aproximar de nossa realidade, quando o futuro parece recheado de desafios para nossas vidas sociais, privada e a nossa relação com os aparelhos, além do que o próprio capitalismo pode tirar de nós.

A partir do momento em que Max decide devolver o que Elena perdeu, o filme dá uma virada. A história toma um ritmo dinâmico e acelerado, com ares de noir e elementos de suspense. É quando o espectador fica mais interessado na trama e no tipo de vingança que nossos protagonistas podem alcançar. O enredo não explora toda a variedade de reflexões que a premissa pode despertar, desperdiçando um pouco de seu tempo na tela.


Filme: Paraíso
Direção: Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute
Ano: 2023
Gênero: Ficção Científica / Suspense / Drama
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.