Precisamos falar sobre Kevin. Kevin Spacey foi absolvido de todas as acusações que pesavam contra ele — todas, inclusive as relativas aos sete pecados capitais. Porém, Kevin não me engana. Todos sabem do que ele é capaz. Quem faz teatro é capaz de tudo. Se o teatro for filmado, as possibilidades são infinitas.
Se é verdade que, após mais de 12 horas de deliberação, um júri considerou o ator inocente, também é verdade que esse mesmo ator, conforme revelado, é o próprio Kaiser Soze. Quem garante que Kevin Spacey não parou de mancar assim que saiu do prédio do tribunal? Alguém filmou? As imagens das entrevistas logo após o anúncio da sentença não contam, por motivos óbvios. Os grandes conglomerados de mídia sabem o que fazem para criar verdades e pós-verdades, dependendo dos interesses do momento. Em Los Angeles, nada é confidencial, exceto o que precisa ser.
Prova disso é que, durante o período em que foi presidente dos Estados Unidos, Kevin Spacey realizou as mais diversas manobras não republicanas, transmitidas regularmente pela televisão, e o Congresso não fez nada. Pelo contrário, o próprio Obama confessou ser um espectador regular e até mesmo um fã dessas atividades. Quem garante que ele não reproduziu nenhuma? Não dizem que a vida imita a arte? Woody Allen, outro absolvido, mas sempre suspeito, não acrescentou dizendo que a vida não imita a arte, imita um programa ruim de televisão? Quem pode negar que as últimas temporadas do mandato de Kevin Spacey na presidência não foram terrivelmente ruins? Até Nixon saiu com mais dignidade.
Claro, um tribunal não é um jogo de azar. Todas as cartas, inclusive a Carta Magna, estão sobre a mesa. Por outro lado, é notório que Kevin Spacey sabe contar cartas. Não é por acaso que ele está proibido de entrar nos cassinos de Las Vegas. Se bem que, provavelmente, essa restrição também vai cair. Em breve, Kevin estará jogando dados e girando a roleta como se nada tivesse acontecido. Afinal, Kevin foi absolvido.
Obviamente, ninguém esperava a pena de morte. Mas era para tão pouco? Sim, era. Kevin Spacey foi absolvido. Mas o que se pode esperar do sistema de justiça de um país que absolve Lex Luthor, a maior mente criminosa de nosso tempo?
Mas, e se por acaso, por uma ínfima possibilidade, a justiça realmente foi feita? Jamais saberemos. E talvez esteja neste estranho paradoxo a verdadeira beleza da América.