É sempre a mesma coisa. A mulher está andando pela rua, a pensar sabe-se lá em quê, quando de repente ouve aquela chupada de saliva — como se alguém estivesse sugando com um canudo as últimas gotas de uma lata de refrigerante — seguida da célebre frase “Gostosa! Ô, lá em casa!”. Criativos que são, alguns ainda arriscam outras chamadas igualmente agradáveis, como “Delícia!”, “Potranca” ou “Que rabo gostoso”. É… A baixaria atingiu níveis nunca antes vistos.
Juro que ainda vou fazer um laboratório social. A cada vez que me soltarem uma dessas, marcharei freneticamente rumo ao cara, com a boca aguada e os dentes arreganhados, já abrindo a blusa com fervor e falando “Delícia é você! Vem pra cá e vamos aproveitar um pouco ali naquele canto!”. Sou capaz de apostar um rim que a maior parte desconversaria ou teria um ataque cardíaco ali mesmo. E eu ainda responderia a um processo por assédio seguido de morte (existe isso?).
Já gastei vários dias de minha vida perguntando qual é a real intenção por trás desses atos, afora o evidente machismo cultural. Em termos pragmáticos, nunca ouvi falar — em qualquer tempo ou lugar — que alguém se tivesse dado bem ao cantar uma desconhecida na rua. Por um tempo, acreditei que se tratava de autoafirmação perante os amigos, num desses comportamentos animalescos que só a biologia pode explicar (dizem que a diferença genética entre homens e macacos é de mísero 1.6%). Mas depois concluí que essa teoria não faz sentido, já que vários acéfalos se comportam assim quando estão sozinhos (gritar de dentro do carro, por exemplo, é um clássico). Assim, só restou uma triste, grotesca e vergonhosa conclusão: trata-se da mais pura e autêntica babaquice.
Certa vez li um artigo de algum rapaz aparentemente bem letrado e articulado dizendo que deveríamos deixar as cantadas masculinas em paz, uma vez que são, na verdade, “elogios brutos” que denotam o que muitos pensam, mas poucos falam. Arremata seu raciocínio dizendo que não precisamos nos acanhar e também podemos sair por aí proferindo obscenidades. “Os homens adoram”. Uma pessoa que acha algo assim claramente não merece o privilégio de possuir um polegar opositor. Por incrível que pareça, mulheres também pensam que alguns homens são “gatos e gostosos”, mas sabe aquela noção básica que se aprende lá no primário sobre respeitar o espaço do outro? Então. Pare de fingir que seu assédio é elogio.
Meu caro, gostaria de lhe fazer um apelo. Não deu e jamais dará certo. Falando sua língua, cantar mulher na rua não vai te fazer comer ninguém. Isso só comprova sua baixa autoestima, insegurança e incapacidade de interação inteligente na condição — em tese privilegiada — de homo sapiens sapiens. Acredite, aqueles sorrisinhos sem graça que elas dão ao ouvirem suas cantadas nada mais são do que caretas envergonhadas por pertencerem à mesma raça que você. Não é agradável. Não é bonito. Não é simpático. Não é esperto. Não é humano.
É babaca mesmo.