Os filhos são do mundo, mas nunca deixarão de ser o mundo das mães

Os filhos são do mundo, mas nunca deixarão de ser o mundo das mães

Mãe vive chorando. E como chora. Chora desde a descoberta de que ama a sua cria mais que a si mesma. Ama com uma intensidade e honestidade que jamais pensara amar alguém, assim, um dia. Ama antes de conhecer o seu filhote e ama ainda mais quando o tem em seus braços. Segura no colo um pedacinho dela, a criatura mais linda que seus olhos já viram. Tão dependente do seu amor e de seus cuidados… Indefeso, frágil, miúdo. E o mais incrível: seu.

Mãe chora por tudo. Chora porque ama demais, chora porque o bebê chora e ela não sabe o porquê, chora porque quer ser eterna para poder cuidar do seu filho para sempre. Mãe chora de desespero porque não sabe se está cuidando bem, chora porque acha que não é uma boa mãe, chora porque não se sente mais mulher, e ao mesmo tempo, chora agradecida por ser mãe. Chora de culpa, ora por ter uma carreira e achar que não se dedica ao filho, ora por culpa por se dedicar exclusivamente ao bebê e não trabalhar fora. A mãe se culpa por ser muito dura às vezes e outras tantas por ser mole demais. Sente culpa por ter limpado a casa e não ter dado tanta atenção ao pequeno. Culpa por ter curtido o filho e deixado a casa de pernas para o ar.

A mãe chora porque os hormônios estão enlouquecidos com a gravidez, o pós-parto e a amamentação. O mundo inteiro se resume em apenas um ser. Todos os sentimentos, todas as vontades, as prioridades, toda a vida da mulher gira em torno do seu filho. Um cansaço mental e físico toma posse da mãe e ela sofre, e chora, claro que chora, por isso. Chora porque se dá conta de que pôs a vida no “pause”, incluindo o seu parceiro, seus desejos, objetivos e sonhos. Ela sabe que o relacionamento do casal é importante, que a vida afetiva deve ser mantida, mas simplesmente não tem forças nem ânimo para nada. Só de pensar nisso ela já se exaure.

Então, a mulher chora porque nota que está perdendo a própria identidade — e esse é um choro doído. Ela se sente menos mulher e ao mesmo tempo mais mulher, e no meio dessa montanha-russa de sensações, ela se sente “apenas” mãe. Veste roupas confortáveis que não marcam a cintura e que sejam fáceis para amamentar. Abandona o salto alto para não cair com o bebe no colo, mantém as unhas curtas para não machucá-lo, deixa de usar perfume para não dar alergia. Mãe cheira à leite, que goteja dia e noite pelos seios inchados e doloridos.

O filho se torna uma extensão do seu corpo, seus braços, colo, quadril, pernas. Ela não consegue mais ir ao banheiro sem o carrinho de bebê, nem tomar um banho demorado como em outros tempos.

Resumindo: ela está sobrecarregada de preocupação, sobrecarregada de responsabilidade, sobrecarregada de tarefas, sobrecarregada de pensamentos, dúvidas, medos.

É hora de ajustar a realidade às expectativas, se despedir do egoísmo e entender que o seu caminho não é mais sozinho. Ao mesmo tempo, admitir que é necessário ter momentos de individualidade para não se perder de si mesma. A mulher carece de um banho demorado, uma noite inteira de sono, assistir a um filme, ler um livro, jogar conversa fora. Porque ela existe como indivíduo antes mesmo de ser mãe. Mais do que nunca precisa de mãe e de amigas — principalmente as que já têm filhos — para dizer que tudo vai passar e que ela não está fazendo nada errado. Precisa do seu companheiro, de um afago, meia dúzia de elogios, dois tabletes de chocolate e uma taça de vinho. Isso a fará sentir que não é “apenas” mãe.

Na verdade ela não entende como as pessoas mais velhas podem dizer: “você vai sentir saudade dessa época”. Saudade das roupas vomitadas e sujas de cocô? Saudade de passar meses sem dormir mais do que três horas seguidas? Saudade de se achar feia, inchada e desleixada?

A verdade é que ela vai sentir falta do aroma do hálito de leite, do alívio do som do arroto, da mão minúscula segurando o seu dedo, do olhar inocente e dependente, da risada banguela e a emoção de ouvir o balbuciar da primeira palavra. Vai sentir falta até das dores nas costas por andar agachada segurando aquelas mãozinhas curiosas! Vai sentir falta dos choros de apelo que a faziam dormir torta e apertada na cama pequena. Vai sentir falta de amassar a banana, de esterilizar as chupetas, da hora do banho que mais parecia o show da Free Willy! Vai sentir falta da época em que ele acreditava em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e Fada dos Dentes! Vai sentir falta dos trabalhinhos escolares, das festas juninas a caráter, das coreografias engraçadas e das musiquinhas bobas. Vai sentir falta das perguntas que sabia a resposta com tanta certeza. Vai sentir falta do tempo em que seus maiores problemas eram as cólicas, os dentes nascendo, as febres de virose, as infecções de ouvido e de garganta.

Logo vem a fase das festinhas de aniversário, das fantasias, dos personagens de desenho animado mais esquisitos que já viu na vida! É a fase do joelho ralado no play, das aulas de natação, futebol e balé, dos lanches com os amigos que mais parece que um furacão passou pela casa!

Depois disso, minha amiga, vêm as cobranças do indivíduo que você queria que ele fosse, o cidadão que ele se tornou, as próprias opiniões e percepções do mundo. Vêm os boletins, os castigos que já não funcionam como em outros carnavais, as desculpas esfarrapadas, os amigos e suas influências, os namoros. Pronto, seu filho cresceu. Nunca mais ele vai pesar três quilos e meio, nem vai caber mais entre o seu queixo e o seu umbigo. Nunca mais ele vai te chamar de mamãe ou pular pra sua cama no meio da madrugada.

Portanto, aqui vai o meu conselho: durma torta e apertada juntinho do seu bebê. Respire seu cheiro e guarde na memória para que ele nunca vá embora. Ande de mãos dadas. Cuide do machucado como se fosse o primeiro. Abrace bem apertado quando a febre chegar. Aproveite a sensação de bem-estar das lágrimas consentidas no abraço apertado. Cante e dance com ele. Conte histórias. Viva a inocência, a esperança, o olhar do filho que vê na mãe a salvação para todos os problemas do mundo.

A verdade é que não importa quanto tempo passe. Os filhos são do mundo, mas nunca deixarão de ser o mundo das mães…

Karen Curi

é jornalista.