Na minha infância, ninguém próximo a mim teve um gato como animal de estimação. Somente na adolescência vivi minha primeira experiência: uma amiga que tinha vários gatos me convidou pra dormir na casa dela. Fiquei totalmente ressabiada, e mal me aproximei dos bichanos. Por fim, achei estranhíssimo ver a minha amiga dormir com um dos seus gatinhos. No mínimo, uma falta de higiene — pensei antes de adormecer.
Os anos se passaram e, outro dia, numa dessas conversas de desabafo com as amigas, alguém me disse que eu deveria adotar um gato. Confesso que achei estranha a correlação do meu estado melancólico com o animalzinho. Na verdade, era uma ideia impossível de acontecer. Adotar um gato? Eu? Nada a ver.
O curioso é que o improvável gato não saía da minha cabeça. De repente, comecei a reparar nos gatos de rua que vivem soltos no meu bairro. Me divertia com os vídeos de gatos no Instagram. Até que um dia, lá estava eu em uma loja de animais de estimação do Shopping perguntando quanto custava o filhote Persa na vitrine. Não comprei o filhote, mas comprei uma revista sobre gatos.
O interessante nessa vida é a nossa capacidade de mudar de opinião e conceitos. Acabei adotando uma gatinha vira-lata de um mês de vida. Três semanas após a chegada da Sofia, adotei outro filhote de vira-lata, a Charlotte.
Minha iniciação no mundo felino foi divertida, atrapalhada e cheia de novidades. Assustei-me com um ruído estranho que uma das gatinhas fazia. Coloquei meu ouvido no tórax dela e fiquei imaginando se ela estava com dificuldade para respirar. Já era tarde da noite para perguntar a algum médico veterinário, então entrei no Google para pesquisar. Descobri que aquele barulhinho que minha gatinha fazia era o seu ronronar, significando simplesmente que ela estava feliz. Mas, impressionantemente, a internet também me trouxe um poema de Ferreira Gullar: “no passado se dizia que esse ronron tão doce era causa de alergia pra quem sofria de tosse. Tudo bobagem, despeito, calúnias contra o bichinho: esse ronron em seu peito não é doença — é carinho”.
Gato faz bem para qualquer idade. Uma idosa viúva que sentia solidão mudou completamente o seu estado emocional depois que adotou um filhote — “a gata mia quando converso com ela”, disse a senhora. Outro dia, caminhando perto de casa, vi um jovem pai que passeava com um Golden puxado pela guia, acompanhado pela filhinha ao lado dele. A menina carregava um gatinho de pelos brancos com o mesmo sorriso das garotas que seguram uma boneca.
Adote um gato. Não importa se você não saiba nada sobre ele. Com o tempo, o bichano te ensinará que dorme onde ele quer, especialmente no meio do seu travesseiro. Você não precisará colocar o relógio para despertar às 6 da manhã, e receberá umas mordiscadas no dedão do pé de madrugada. Paradoxalmente, você achará engraçado o gatinho pular na sua cortina nova da sala e ficar pendurado como se fosse o Homem-Aranha.
Ele te ensinará a dar mais valor às coisas simples da vida. Para ele, uma bolinha de papel e uma caixa de sapatos furada serão brinquedos mais divertidos que os comprados nas lojas. Você vai até pensar: “como é que pude viver até agora sem a companhia de um gatinho?”.
Como disse o poeta, o gato tem um “motor afetivo que bate em seu coração, por isso ele faz ronron”. E sua energia será recarregada toda vez que o gato ligar o motorzinho de ronron dele.