Tire as crianças da sala antes de assistir esse filme bafônico na Netflix

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“Quatro Histórias de Desejo 2” é uma antologia indiana com quatro curtas-metragens cujo tema principal é o sexo. Mesmo nos dias de hoje, em pleno século 21, sexo é um tabu. Muita gente se sente constrangido em tocar no assunto. As mulheres, em geral, são as principais reprimidas e demonstrar qualquer interesse no tema pode ser polêmico e controverso. Se uma mulher diz gostar de sexo, ela não presta. Se diz não gostar, é frígida. É difícil se enquadrar no socialmente aceito e uma das formas de discutir esses problemas é por meio das artes em geral.

O cinema, como uma das atividades artísticas mais democráticas, é uma maneira abrangente, inclusiva e fácil de comunicar sobre o assunto. Em “Quatro Histórias de Desejo 2”, quatro cineastas indianos se reúnem para explorar diferentes situações e pontos de vista sobre o sexo.

No primeiro curta-metragem do diretor R. Balki, acompanhamos a adorável história de Veda (Mrunal Thakur), uma jovem que está noiva de Arjun (Angad Bedi). Quando sua avó, interpretada brilhantemente por Neena Gupta, questiona se há compatibilidade sexual entre o casal e diz na frente de toda a família que a neta só deve casar depois de saber se seu noivo é bom de cama, o grupo fica em choque.

Enquanto a avó tenta fazer sua tímida neta se abrir sobre sua vida íntima com o noivo e revela que quando seu marido estava vivo a vida do casal era fogosa, faz toda a família rever como lida com suas questões sexuais. Embora seja a parte mais ingênua e bobinha de toda a antologia, a avó traz reflexões sobre como compartilhar sua intimidade com uma pessoa compatível é essencial para a durabilidade dos relacionamentos.

Claro que olhando por um ângulo, a discussão parece rasa. Afinal, nem só de sexo sobrevivem os casamentos, questões como lealdade, confiança, companheirismo, admiração, respeito e convivência não são colocados à mesa. Mesmo assim, não deixa de ter um argumento relevante.

Já no segundo curta-metragem, dirigido por Konko Sen Sharma, temos uma história mais madura e complexa, provavelmente o melhor dos quatro contos. Ele gira em torno de Isheeta (Tillotama Shome), uma mulher de classe média, que flagra secretamente sua empregada doméstica, Seema (Amruta Subhash), transando com o marido em sua cama. À princípio, Isheeta fica surpresa e revoltada com a cena. No entanto, conforme percebe a paixão com que o casal se relaciona na cama, ela sente tesão.

Então, Isheeta começa a inventar desculpas para chegar mais cedo em casa para ver se sua funcionária continua a usar seu quarto como motel. A dona da casa percebe que o sexo escondido em sua casa é uma rotina do casal. Excitada ao vê-los trocar toques carícias, Isheeta se torna uma voyer dentro de sua própria residência e passa a se masturbar conforme assiste secretamente os dois fazendo sexo.

Neste curta, há um conflito moral na mente das duas personagens, que se posicionam nos polos opostos da pirâmide social. A história se desenrola como um suspense, enquanto questiona o fetiche de transar na cama do opressor como vingança, ao mesmo tempo que demonstra que riqueza não é capaz de comprar afetos.

Já no conto de Sujoy Ghosh temos um thriller um pouco estranho e esteticamente feio. A história narra o reencontro entre Vijay (Vijay Varma) e Shanti (Tamannaah Bhatia), duas pessoas que já tiveram uma conexão profunda no passado, mas que por circunstâncias misteriosas foram separados. Hoje, com novos parceiros, eles não resistem à intensidade de sua paixão, mesmo depois de separados por muito tempo, e revivem uma última experiência sexual. O final ainda reserva uma reviravolta um tanto quanto surpreendente.  O engraçado aqui é que Vijay e Tamannaah se relacionam na vida real, mas em cena não demonstram nenhum tipo de química.

No curta de Amit Ravinder Nath Sharma a história é mais tensa. Na verdade, ela ultrapassa do tema tabu e acaba abordando a violência sexual. Aqui, Suraj Singh (Kumud Mishra), interpreta um rei endividado e megalomaníaco, que controla as pessoas ao seu redor como se fossem sua propriedade. A rainha é violentada pelo marido bêbado diariamente e tenta proteger o filho da crueldade de seu pai. Embora tenha sido prostituta no passado, ela se sentia mais segura e livre em seu bordel que no palácio em que vive com seu companheiro opressor.

Com uma bela fotografia e uma história angustiante e incômoda, este conto fecha o ciclo deixando um nó górdio na garganta dos espectadores.


Filme: Quatro Histórias de Desejo 2
Direção: R. Balki, Sujoy Ghosh, Amit Ravindernath Sharma e Konkona Sen Sharma
Ano: 2021
Gênero: Drama / Romance / Suspense
Nota: 7/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.