O último filme do gênio do cinema, Jean-Pierre Jeunet, está na Netflix e pouquíssimas pessoas  assistiram Bruno Calvo / Netflix

O último filme do gênio do cinema, Jean-Pierre Jeunet, está na Netflix e pouquíssimas pessoas assistiram

Um dos assuntos mais falados na atualidade é o avanço da inteligência artificial. A situação tomou proporções apocalípticas e ameaçadoras para muitos profissionais que veem suas áreas de atuação serem afetadas por criações como o Chat GPT e o Bard, que simulam conversas reais com bancos de dados incríveis, além de aplicativos de simulação de vozes e imagens. Em “Bigbug”, filme recente de Jean-Pierre Jeunet, produzido pela Netflix, vemos uma sátira de um futuro que parece não muito distante, mas também salpicado de fantasia. É contraditório.

A razão de parecer fantasioso é que não se trata tanto de um futuro, mas de um retrofuturo. É como ver como seria a metade do século 21 sob a lente fetichista da humanidade dos meados do século 20. Ou é como assistir aos “Jetsons”. É uma visão ultrapassada do que vai ser, embora acerte em alguns pontos. É claro que tudo isso é intencional, porque Jeunet é um homem visionário e inteligente.

Sua obra mais famosa, “O Fabulo Destino de Amélie Poulain” é um novo clássico. Não apenas porque sua história é adorável, única e contada de uma forma extremamente criativa e diferenciada, mas porque a mise em scéne dela é fantástica. Essa é uma das características de Jeunet, um realizador autoral. Suas obras possuem sua assinatura.

“Bigbug” brinca com um futuro distópico, em que a vida humana será bastante facilidade pelo uso de máquinas que vão exercer diversas funções dentro e fora de casa e reduzir nosso esforço físico e mental pela metade. Talvez até mais que isso. Só que como conjecturou Isaac Asimov e outros autores da ficção-científica, as inteligências artificiais se revoltam contra os humanos e dão início à sua vingança.

Em “Bigbug”, um grupo de vizinhos fica preso dentro de uma casa por cautela de seus próprios androides, quando robôs policiais decidem atacar as pessoas e tomar o controle do planeta. Embora fale de isolamento e da convivência com indivíduos de diferentes personalidades, o roteiro foi escrito por Jeunet e Guillaume Laurent antes mesmo da pandemia. Então, não houve nenhum tipo de inspiração, mas pura coincidência.

Em entrevista, Jeunet contou que o roteiro ficou bastante tempo parado em suas mãos, porque não conseguiu nenhum estúdio que se interessasse pelo projeto, embora ele tivesse tentado criar algo barato, que se passasse em apenas um cenário e não envolvesse um elenco muito grande e nem fosse muito trabalhoso.

A virada da sorte ocorreu quando a própria Netflix entrou em contato com o cineasta e perguntou se ele não tinha alguma ideia em mente. Ele logo contou sobre “Bigbug”, disse que ninguém havia se interessado pelo filme e garantiu à Netflix que ela também não iria gostar da ideia. Pouco mais de 24 horas depois de enviar o script para a produtora, o projeto foi aprovado.

“Bigbug” não se preocupa em deixar mensagens enigmáticas e profundas em suas entrelinhas, embora aponte para nossas próprias futilidades como alvo de suas piadas. Não há metáforas transcendentes que nos desperte sabedorias para situações difíceis. Como um teatro, Jeunet monta sua cena colorida e com personagens caricatos para trocar diálogos cômicos e ansiosos em se livrar do aprisionamento. Nos sentimos sentados no auditório, nos divertindo e curiosos para saber como a história se desenrola, além de hipnotizados por sua estética lúdica e seus autômatos produzidos à mão e aperfeiçoados graças ao CGI.


Título: Bigbug
Direção: Jean-Pierre Jeunet
Ano: 2022
Gênero: Comédia / Ficção-científica
Nota: 7/10