O casamento é um jogo de 7 erros

O casamento é um jogo de 7 erros

Essa vida é uma ciranda, uma grande brincadeira, ora de mau gosto, ora de bom grado. Uma cruzadinha de direitos e deveres, um caça palavras de sentimentos, a pescaria de escolhas onde a recompensa nem sempre é um grande urso de pelúcia cor-de-rosa. Tem vezes que a roda da vida mais parece uma roleta-russa. De nada adianta torcer para que a bala não seja o prêmio da vez. Quando tem que ser, é.

Das duas uma; ou a vida prega muitas peças na gente, ou nós somos sujeitos carimbados pela falta de sorte, “cagados” recorrentemente por uma nuvem de pombas. Aliás, nunca vi ninguém feliz, nem ganhar na loteria, depois de ser lavado por um desarranjo de pássaros. Então, assumo a cagada volante como um asqueroso agouro. E por falar em sorte ou na falta dela, diz o ditado que aquele que tem sorte na vida tem azar no amor. E vice-versa. Justa essa máxima. Afinal, não se pode ganhar sempre, não é mesmo?

Temos em mãos as cartas que decidem o nosso caminho. Movidos pela razão e a necessidade, elegemos o que nos parece a melhor jogada. Andamos algumas casas, retrocedemos outras, e assim o jogo da vida vai tomando rumo e forma, oscilando entre passagens milionárias e miseráveis. No trajeto dos propósitos e obrigações, uma carta surpresa surge com a possibilidade de virar a mesa e quebrar a banca. Pronto, fomos premiados no baralho do amor com um Ás de Copas, o coringa provedor da fortuna. E agora?

Andamos várias casas flutuando por sobre os adversários sem raspar no tabuleiro. “Pare. Hoje é o dia do seu casamento! Coloque outro bonequinho em seu carro.” “Parabéns! Vocês tiveram um filho! Ande uma casa por cada participante do jogo.” Você completou mais uma volta e após a euforia das passadas largas e das casas avançadas, começa a se dar conta de que já não divide apenas o mesmo jogo. Você rateia o espaço físico, reparte os seus pensamentos, compartilha seu corpo, já não faz nada que não seja em conjunto. Enfim, você já não é mais uma unidade. Você se transformou em vocês.

O casamento é um jogo de sete erros. Tem gente que nunca os encontra. Feliz deles. Algumas pessoas acham mais rápido, mais erros, e pulam para uma próxima partida. Outras simplesmente fecham a página e o deixam ali, quieto, com o resigno de quem acertou a charada e o desânimo de quem não faz a menor questão de adivinhar ou entender um novo desafio.

O primeiro e notório dos erros é a fatal perda da individualidade. Todo mundo precisa existir em singularidade, ter os próprios amigos, fazer programas sozinho, ou estar em outras companhias sem a dependência do parceiro como muleta. Manter as relações de amizade não te faz amar menos o seu par. É apenas uma questão de espaço. Cada um no seu quadrado, todos com as suas importâncias. Segundo erro: ninguém transforma ninguém. Cada um é o que é. Temos a nossa essência, somos a construção de valores de toda uma vida. Se isso é bom ou ruim, tanto faz. Ou você aprende a lidar com o fato ou você se frustra. Terceiro erro: não somos os donos da razão e não existe apenas uma verdade. Voltando lá atrás: pontos de vista variam de acordo com as nossas percepções. Logo, somos seres únicos, construídos de forma particular, enxergando de um jeito original.

O quarto erro no jogo do casamento é o excesso de intimidade. Tudo nessa vida precisa de limite, inclusive e sobretudo quando diz respeito à privacidade. Existem momentos que não podem ser explícitos demais, senão perde-se o mistério, e o outro passa a ser território dominado. Aí vem o quinto erro, que é o pensamento: “conquista garantida, batalha ganha”. Muitos relacionamentos acabam porque não são instigados a seguir conquistando o outro. Desistir de seduzir o parceiro gera o sexto erro, que é a preguiça de amar. O desânimo tomou conta dos dois. O sexo não engata mais de primeira. Vocês já decoraram o roteiro para chegar ao final feliz. Dizem “eu te amo” com a falta de emoção como quem diz “me passa o sal”. A preguiça de amar é praticamente o prelúdio da falta de amor.

E, para finalizar, o sétimo erro é a terra que sepulta o túmulo da relação falecida. Por mais que seja fundamental preservar a identidade, o casamento é uma estrada feita para dois, e não apenas um, ou três, cinco, vinte pessoas. Casamento que permite a intromissão de terceiros vira a casa da mãe Joana. Cumplicidade é fundamental. Olhar para a mesma direção é crucial. União, respeito e perseverança fortalecem o amor.

Talvez você ainda não tenha encontrado os sete erros. Talvez você já esteja no seu segundo, terceiro ou quarto jogo. Talvez você não tenha encontrado nenhum erro. Talvez nunca tenha brincado de amar…

O que importa é jogar os dados. Senhoras e senhores, a sorte está lançada!

Karen Curi

é jornalista.