Impossível não se comover: filme francês cativante e intenso agora na Netflix Julien Panié / Synapse Distribution

Impossível não se comover: filme francês cativante e intenso agora na Netflix

“O Destino de Haffmann” é um filme do cineasta francês Fred Cavayé, adaptado da peça de teatro homônima de Jean-Philippe Daguerre por Sarah Kaminsky. O longa-metragem que se passa durante a Segunda Guerra foi gravado na rua Androuet, em Paris. A via foi fechada e transformada em um cenário de época ainda em janeiro de 2020, quando começaram as gravações. No entanto, a pandemia de coronavírus interrompeu o fluxo dos trabalhos. Durante o período de confinamento na França, a rua ficou bloqueada, mas uma tempestade que ocorreu em maio destruiu o cenário, obrigando a produção a recriar todo o local para que as gravações pudessem recomeçar.

O enredo de “O Destino de Haffmann” é genial na medida em que acompanha a distorção do caráter humano em uma situação de perigo extremo. A história gira em torno do joalheiro judeu naturalizado francês Joseph Haffmann (Daniel Auteuil), seu assistente leal François Mercier (Gilles Lellouche) e sua esposa, Blanche (Sara Giraudeau). O filme conta como suas vidas foram transformadas pela ocupação nazista na França.

No começo, vemos Haffmann conversar com sua esposa Hannah (Anne Coesens) sobre a necessidade de partir com a iminente chegada dos militares alemães. A esposa parte com os filhos para um lugar seguro, enquanto Haffmann fica para trás para garantir que sua joalheria ficará cuidada até o fim da guerra e seu retorno. Então, ele faz um contrato de venda fictício, em que entrega tudo para seu assistente Mercier, um homem bom e apaixonado por sua esposa Blanche, com quem sonha em ter filhos. No entanto, o casal encontra dificuldades para engravidar.

Quando Haffmann tenta fugir da chegada dos nazistas, fica sabendo que a cidade está sitiada e tem que voltar para casa e pedir para Mercier abrigá-lo em seu próprio porão. Enquanto Haffmann fica escondido no subterrâneo da residência, Mercier troca a fachada da loja e começa a negociar as joias fabricadas por Haffmann com alemães. Afinal, a melhor forma de camuflar o segredo é ganhando a confiança dos inimigos.

Não que Mercier ideologicamente comece a se identificar com os alemães, mas aos poucos sua relação com os nazistas começa a estreitar. Não apenas isso, a ganância com os lucros da joalheria e a inveja do talento de Haffmann começam a transformar Mercier, gradualmente, em um vilão. O joalheiro, assim como Blanche, se tornam, aos poucos, reféns de Mercier, que os domina conforme seus próprios interesses. Aos poucos, os espectadores começam a imaginar o que poderia ter sido pior para Haffmann: cair nas mãos dos nazistas ou ter colocado sua própria vida nas mãos de seu assistente.

E é interessante observar como os personagens centrais são seres humanos com emoções, sentimentos e vontades tão humanas, frágeis e reais. Não há super-heróis ou supervilões, apenas pessoas em busca de sua felicidade e realização. Somos seres complexos e, nem sempre, nossos comportamentos definem tudo sobre nós. No caso de Mercier, seu espírito foi corrompido por uma ambição que poderia ter recaído sobre qualquer pessoa. Seus sentimentos, embora condenáveis, são completamente humanos.


Filme: O Destino de Haffmann
Direção: Fred Cavayé
Ano: 2021
Gênero: Drama
Nota: 10/10