Não li “Salvar o Fogo”, de Itamar Vieira Junior, mas sei que é genial

Não li “Salvar o Fogo”, de Itamar Vieira Junior, mas sei que é genial

Meninas e meninos eu não li “Salvar o Fogo”, do gênio Itamar Vieira Junior, mas sei que é o melhor livro de todos os tempos. Não é o livro que merecemos, mas é o livro que precisamos. O segundo melhor, obviamente, é “Torto Arado”. Se em “Torto Arado”, Ele escreveu certo por linhas tortas (fique claro que essa imprecisão gráfica é culpa dos editores, não do Autor), em “Salvar o Fogo” dobrou a meta e salvou não apenas o fogo de Prometeu como também prometeu e cumpriu a salvação do fogo da literatura brasileira, no nobre ato de soprar a sardinha para sua brasa. Não que não seja justo, claro. Justíssimo é. Afinal, se existe um lugar em que a verdade se estabelece, mais do que em “O Poderoso Chefão”, na Bíblia ou no número 42, é nas colunas da “Folha de S. Paulo”.

Salvar o Fogo
‎ Salvar o Fogo, de Itamar Vieira Junior (Todavia, 320 páginas)

Se todo messias é renegado em sua própria terra, Itamar Vieira Junior precisou cumprir sua sina. Recebeu críticas heréticas de uma mera doutora em literatura como se o simples fato de possuir doutorado em literatura lhe desse o direito de exprimir opiniões embasadas sobre literatura. Um absurdo desses só acontece no Brasil, terra em que quase ninguém fala javanês, o idioma destinado a substituir o inglês na condição de esperanto que deu certo. Ainda precisamos evoluir muito na arte de concordar sem embasamento. Pessoas embasadas como o escritor angolano José Eduardo Agualusa prestam um desserviço à literatura brasileira ao insinuar que o rei está nu. Na verdade, não está, mas só os bons leem.

“Salvar o Fogo” não precisa ser lido para ser festejado. Depois do retíssimo “Torto Arado”, “Salvar o Fogo” só pode ser o fogo quer arde sem se ler. Diante de um exemplar de “Salvar o Fogo” sinto-me como Moisés diante da sarça ardente, que queimava sem se consumir. Itamar é aquele que é. Simples assim, não preciso ler para saber. Apenas sei. A literatura de Itamar Vieira Junior é um ato de fé. Querer bancar o Tomé, e ler para crer, é pura vaidade intelectual. Quem tem medalhão não precisa de vaidade intelectual. Talvez precise apenas de um Machado para cortar a língua de quem fala o que não deve ser falado.


Livro: Salvar o Fogo
Autor: Itamar Vieira Júnior usando a consciência cósmica
Páginas: livro de areia
Editora: Todavia, contudo
Nota: 1001/10

Ademir Luiz

É doutor em História e pós-doutor em poéticas visuais.