Os cientistas solucionaram a famosa pegadinha que questiona quem veio primeiro: o ovo ou a galinha? Um artigo publicado na revista Nature aponta que foi a galinha. Escrito por Michael Benton, professor de palentobiologia na Universidade de Bristol, o texto esclarece que, ao contrário do que cientistas renomados, como Alfred Sherwood Romer, acreditaram durante muitas décadas, o ovo de casca dura não foi uma evolução-chave para que espécies dominantes, como mamíferos, se espalhassem pela terra, já que muitos de seus antepassados espécies evoluíram de seres vivíparos.
Não entendeu nada? Não sei preocupe, a gente esmiuça o que os cientistas descobriram recentemente. Veja bem, os tetrápodes são todos os seres que possuem quatro membros. Eles podem ser mamíferos, répteis, anfíbios e aves. Os livros didáticos apontam que nos períodos Devoniano e no Carbonífero, eles desenvolveram seus membros a partir de barbatanas de peixes e tinham hábitos de anfíbio. Eles tinham peles à prova d’água, esqueletos ágeis e, ao passarem a reproduzir por ovos amnióticos, puderam proteger o réptil em desenvolvimento de climas quentes e secos. Assim os amniotas puderam se afastar das águas e dominar os espaços terrestres.
Mas muitos biólogos perceberam que amniotas vivos, como cobras e lagartos, podem alternar entre viviparidade e oviparidade, ou seja, podem gerar os filhotes vivos ou colocar ovos. Muitas espécies dentro de um único gênero apresentam ambos os comportamentos. Então, começou a ser debatido se os antepassados desses répteis colocavam ovos de cascas duras, ovos de cascas não mineralizadas ou geravam filhotes vivos.
O ovo amniota parecia uma enorme evolução dos répteis, aves e mamíferos. A estrutura dos ovos amniotas de diferentes espécies apresenta características bastante similares, como a casca externa e as várias membranas extraembrionárias. Os paleontólogos começaram a estudar quais dos amniotas extintos produziram filhotes vivos. Então, foram descobertas espécies que eram capazes de fazer as duas coisas, alternando entre os dois modos de reprodução. Mark Norell, do Museu Americano de História Natural, mostrou em 2020 dinossauros que vieram de ovos de casca de pergaminho ou pela geração de filhotes vivos.
Uma das evidências para isso é justamente a falta de evidências. Ou seja, antes do início Jurássico, há cerca de 190 milhões de anos, não existiam (ou não foram encontrados) nenhum ovo de tetrápode. A ausência dos ovos de casca dura é sugestiva, mas não conclusiva. Ao analisar tipos de ovos de dinossauros, Norell e seus colegas cientistas apontaram que o ovo de casca dura e mineralizada é uma evolução tardia.
Para entender melhor, foram estudadas 51 espécies fósseis e 29 espécies vivas. Entre os vivos, como pássaros, crocodilianos e tartarugas, percebeu-se que os ovos de casca dura estavam presentes em suas origens, enquanto os primeiros mamíferos escamados e répteis marinhos extintos apresentavam viviparidade. A descoberta aponta para a viviparidade na raiz de várias espécies extintas de dinossauros, pássaros, pterossauros e crocodilianos.
A retenção prolongada de embriões (EER) é comum entre vertebrados e se refere ao período em que os filhotes se desenvolvem dentro da mãe por um por tempo menor ou maior. Ao que indica, o EER tem razões ecológicas, entre elas, temperatura e suprimento de alimentos. Assim, os cientistas observam que os primeiros amniotas reproduziam por EER como meio de proteger o embrião em desenvolvimento por mais tempo em situações desfavoráveis.