Ao longo da abertura de “Os Suspeitos”, uma atmosfera de incômodo insinua-se sutilmente. Esse suspense, oriundo da década passada, chegou três anos antes de “A Chegada” (2016), marcante obra do cinema contemporâneo, cuja relevância ecoa questões humanas como a busca pelo avanço tecnológico e o questionamento sobre outras formas de vida. Denis Villeneuve, diretor de ambos os filmes, explora a habilidade de criar narrativas reflexivas, desenhando círculos narrativos que podem resultar em experiências claustrofóbicas, ao apresentar diferentes possibilidades para um mesmo arco. Nesse enredo, um dos destaques do longa é o uso de nuances na linguagem cinematográfica, diretamente ligadas à atuação do elenco, fazendo do roteiro de Aaron Guzikowski uma jornada que ultrapassa o comum.
Na trama, Keller Dover, um carpinteiro que vive uma rotina solitária na floresta, abate um cervo sem demonstrar nenhum conflito moral. Hugh Jackman, como Dover, exibe habilmente a complexidade do personagem, um homem que oscila entre a virilidade exagerada e a vulnerabilidade que tenta esconder. A narrativa se desenvolve e o espectador percebe que ele é, de fato, vítima de seus próprios preconceitos. A atmosfera do jantar de Ação de Graças, por exemplo, com a família Birch, evidencia essa contradição. Quando os filhos do casal, Ralph e Anna, interpretados por Dylan Minnette e Erin Gerasimovich, desaparecem, o cotidiano dessas famílias muda drasticamente.
Nesse ponto, Villeneuve constrói um segundo ato onde o terror psicológico de “Os Suspeitos” se intensifica. Aqui, o destaque vai para a fotografia sombria de Roger Deakins, que confere ao cenário um caráter próprio. Jake Gyllenhaal, como o detetive Loki, traz uma carga trágica a partir de seu passado misterioso no orfanato onde cresceu. Essa experiência o faz suspeitar que o verdadeiro culpado pelo sequestro das garotas possa estar mais próximo do que se imagina. Esse homem não é Alex Jones, o vizinho com deficiência intelectual interpretado por Paul Dano, mas sim Holly, a mãe adotiva de Alex, interpretada por Melissa Leo.
Leo traz à tela uma personagem intensa e perturbadora. A violência que se desenrola em seu entorno, no entanto, ofusca a complexidade da personagem, relegada a uma esquina da trama. Viola Davis, atriz de renome, aparece esporadicamente durante o filme e sua personagem nunca é completamente desenvolvida, o que pode ser considerado uma oportunidade perdida na trama. No fim, “Os Suspeitos” alcança sua conclusão após uma série de sequências que poderiam ter sido evitadas, com exceção da breve, mas marcante, aparição de David Dastmalchian.
Filme: Os Suspeitos
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2013
Gêneros: Thriller/Crime
Avaliação: 9/10