Conforme teóricos de literatura sugerem, o conto e o romance são distintos por três características fundamentais: extensão, estrutura e número de personagens. O conto é mais conciso, compacto. Normalmente, se limita a algumas páginas onde o autor constrói início, meio e fim, semelhante a um resumo de um romance.
Julio Cortázar, hábil artilheiro do Conto Futebol Clube, costumava dizer que “enquanto o romance sempre vence por pontos, o conto deve vencer por nocaute”. Pessoalmente, vejo o romance como uma liga de futebol, com pontos corridos; já o conto, um jogo de salão: cinco vira, dez termina.
“Lontananza Bar”, do mexicano David Toscana, compila histórias que transcorrem ou remetem a um decadente bar, ponto de encontro dos habitantes de uma aldeia anônima e remota, nas vastas planícies do México.
Esse preâmbulo se faz necessário pela forma que o livro, indicado no título, chegou até mim. Um estimado amigo, um notável escritor, descreveu-o como “um romance que pode ser lido como uma série de contos, ou contos encadeados formando um romance”. Entretanto, minha avaliação e a classificação bibliográfica são unânimes: é uma coletânea de contos.
Entre os personagens, provavelmente o próprio bar é o protagonista, onde tudo se desenrola, seja em torno ou por ele. Relatos como o do engenheiro que descobriu, num baralho de pôquer, uma fórmula para calcular probabilidades; contadores formulando teorias para um bilhete de loteria, promessa de uma fortuna inesperada que poderia alterar toda a realidade do lugar; operários de uma fábrica de televisões, aguardando o inevitável desligamento, ou o aspirante a escritor que assiduamente se acomoda no fundo do bar com um aviso: “Escritor formado procura histórias para escrever contos”.
Os contos de Toscana dançam com a desesperança, retratando a alma da América Latina, suscetível às flutuações econômicas globais, mas ainda assim, repleta de otimismo de que, eventualmente, as coisas podem dar certo.
O título do livro, Lontananza, deriva do termo espanhol que significa “distanciamento”, uma técnica que pintores usam para ganhar uma visão geral de sua obra em andamento, ajudando a finalizar as partes.
Retomando o começo do texto e a metáfora do futebol para diferenciar romance de conto, imagino outra figura para apresentar este livro: com jabs, ganchos, cruzados e diretos, “Lontananza Bar” poderia ser um manual de boxe, mas afortunadamente, é uma aula de literatura, de como escrever uma série de contos que poderiam facilmente passar por um romance enxuto.