Rita Lee levou meu sorriso no sorriso dela

Rita Lee levou meu sorriso no sorriso dela

Tudo aconteceu quando estávamos no escurinho do cinema, chupando drops de anis, longe de qualquer problema, perto de um final feliz.

— Como vai você? Eu conheço essa cara…

— Mais um filho de Deus, nessa canoa furada, remando contra a maré.

— Olha, o que foi, meu bom José?

— Tem certas coisas que a gente não consegue controlar. Me cansei de lero-lero. Dá licença, mas, eu vou sair do sério. Me cansei de escutar opiniões de como ter um mundo melhor.

— Desculpe o auê. Eu não queria magoar você. Foi ciúme, sim. Perdi a cabeça.  Kiss me, baby! Kiss me!

— Não me suicidei por um triz. Tô um lixo.

— Vem cá, meu bem. Me descola um carinho. Eu sou neném, só sossego com beijinho. Vê se me dá o prazer de ter prazer comigo. Entre corações que tenho tatuados, de você, me lembro mais; de você, não me esqueço jamais.

— O amor nos torna patéticos.

— Ai de mim que sou romântica. Nosso amor vale tanto. Por você, vou roubar os anéis de Saturno.

— Ando meio desligado. Olho e não vejo nada. Já nem sinto os meus pés no chão.

— Por favor, não me leve a mal. Que tal nós dois numa banheira de espuma? El cuerpo caliente, um dolce far niente, sem culpa nenhuma, fazendo massagem, relaxando a tensão em plena vagabundagem, com toda disposição, falando muita bobagem, esfregando com água e sabão.

— Baby, não adianta chamar quando alguém está perdido procurando se encontrar. Não acredito em nada, não. Até duvido da fé. Dizem que sou louco por pensar assim.

— Eu juro que é melhor não ser um normal. Eu fico pensando em nós dois, perdidos na cidade nua, empapuçados de amor. Eu só quero brincar com sua cabeça, menino bonito.

— Tive sorte de encontrar você, que debocha do meu jeito de ser.

— Orra, meu! Nunca fui santa. Para com isso. Que loucura.

— Nem sempre tem vento. Nem sempre tem jeito pra dar quando se trata de vida ou de morte. O que eu gosto é de andar na beira do abismo, arriscando minha vida por um pouco de emoção.

— Dance! Dance! Dance! Gaste um tempo comigo. Dê-se ao luxo de estar sendo fútil agora. Amor é para sempre.

— Nada de amor. Nada de paz. Eu não controlo a cuca. Eu quero ser sedado.

— Me acostumei com você sempre reclamando da vida. Mas, nada disso importa. Vou abrir a porta pra você entrar. Venha me beijar, meu doce vampiro. Venha sugar o calor de dentro do meu sangue vermelho. Você me deixa cabreira, sem eira, nem beira, feito barata tonta.

— Eu, hoje, represento a loucura. Não sei se estou pirando ou se as coisas estão melhorando.

— Meu bem, você me dá água na boca. Lindo, eu me sinto enfeitiçada. Seu olhar é simplesmente lindo.

— Mas também não diz mais nada. Passo o dia inteiro pensando, meu bem. É uma neurose.

— Sou dependente do amor. Pega, rapaz! Me pega, rapaz! Eu te amo cada vez mais. Você é toda minha munição. Não negue fogo pro meu coração machucadinho.

— Um belo dia, resolvi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer. Me libertei daquela vida vulgar. De repente, tudo fica velho, seriamente louco. Tudo vira bosta. Sobra pouco tempo pra não sei o quê.

— Coisas da vida, bwana. São coisas da vida. Quando a lua apareceu, ninguém sonhava mais do que eu. Agora, aquele sonho cresceu. No ar que eu respiro, eu sinto prazer de ser quem eu sou, de estar onde estou. Agora só falta você. Agora só falta você.

— Amo quem me ama. Eu juro que dias melhores virão.

— Já te falei. É a vida. Chega mais. Beija-me, amor. Pra você, eu digo sim.

*Texto concebido em tributo a Rita Lee, utilizando somente versos e títulos das composições de sua autoria.

Eberth Vêncio

É escritor e médico.