Perder um filho é perda total. Com a morte não se negocia. É inútil tentar substitui-lo por um neto, como faz a avó (Diane Lane, intensa), ex-domadora de cavalos e dona de um sítio, que vai atrás da nora que casou de novo e escolheu mal o padrasto do pequeno Jimmy.
Carrega na investida o policial aposentado (Kevin Costner, cada vez melhor em papéis do neofaroeste) que confronta a sinistra família do padrasto violento com a esposa e o filho dela.
Em “Deixe-o Partir” (Thomas Bezucha, 2020), a humanidade isolada e sem rodeios vive suas perdas. A família que era estruturada enfrenta o luto de um filho único que bateu a cabeça nas pedras ao cair do cavalo, e sofre a distância do neto levado para um endereço não sabido. O moço índio vive sozinho fugindo da perseguição étnica. A mãe dominadora (Lesley Manville, assustadora e digna de um Oscar) vê os irmãos morrer em tragédias sucessivas e mantém os filhos sob tacão. Especialmente aquele que fugiu e se casou com a jovem viúva e teve de voltar para o seu redil.
O que fazer com tantas derrotas numa paisagem desolada e sem perspectivas, onde a lei é lenta e a polícia muitas vezes corrupta e conivente com o crime? O ex-policial sofre e não se conforma, mas não se desespera. Só que precisa acompanhar a decisão da esposa e com isso acaba se envolvendo com armas e tiroteio, num revival inesperado de sua rotina profissional do passado.
Por não se conformarem com as perdas as matriarcas levam suas proles para um desfecho trágico. Terminam assim de perder o que lhes restou. As lembranças na terceira idade ficam contaminadas pelo conflito. As novas amizades se despedem. A paz torna-se impossível. E os diálogos sussurrados em caprichada carpintaria dos cenários e roupas pontuam essa nova escola do cinema americano, que já nos deu grandes filmes inspirados numa literatura que inova um gênero de ação e drama tradicional da cultura americana. São faroestes com carros e cavalos que mantém os chapéus de cowboys, as armas, a tensão étnica e o duelo final. Roteiros contemporâneos de um ambiente clássico que adicionam um justo equilíbrio de qualidade num cinema atual contaminado por draminhas urbanos politicamente corretos ou fantasiosos épicos de heróis ancestrais ou tecnologias sob a inteligência artificial.
O novo faroeste nem sempre acerta a mão, mas devemos ficar atentos a ele antes de achar que tudo não passa de uma droga.
Filme: Deixe-o Partir
Direção: Thomas Bezucha
Ano: 2020
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 9/10