Obra-prima de Alejo Carpentier ganha nova tradução

Obra-prima de Alejo Carpentier ganha nova tradução

Alejo Carpentier (1904-1980) é um dos mais importantes escritores da América Latina. Ao lado de Lezama Lima, Virgilio Piñera, Severo Sarduy e Guillermo Cabrera Infante, figura entre os maiores de Cuba. A rigor, só Lezama Lima equipara-se ao autor de “O Século das Luzes” (a tradução de Sergio Molina, para a Companhia das Letras, é excepcional).

Há um “problema”, não com a prosa, mas com o posicionamento político de Alejo Carpentier. Por ter sido “capacho” de Fidel Castro, há quem deprecie sua literatura refinada e complexa. Trata-se de um erro de julgamento… literário.

Alejo Carpentier
O Cerco, com tradução de Silvia Massimini Felix (Companhia das Letras, 136 páginas)

A literatura de Alejo Carpentier nada tem a ver com sua adesão — por sobrevivência, quem sabe — à ditadura cubana. Não há uma gota de realismo socialista na sua prosa, ao menos nos seus livros mais relevantes. Tenho a impressão de que escapou da vigilância da sanha censória da dinastia Castro porque sua literatura era “para poucos”. O que importava ao ditador era o apoio político público, sem restrições. E isto o autor de “O Recurso do Método” não se recusou a dar.

A Companhia das Letras vai publicar sua novela “O Cerco” (“El Acosso”), com tradução de Silvia Massimini Felix. O livro tem 136 páginas e custa 74,90 reais. Claro, vale — por causa da alta qualidade literária de Alejo Carpentier. Mas qual leitor pode pagar 75 reais por um livro? Poucos leitores, só os de classe média e os ricos.

Há uma edição muito boa, da Global, com tradução apurada de Eliane Zagury. No Estante Virtual, o livro pode ser adquirido por 7 reais.

Uma novela a ser reconstituída

Trecho da apresentação da Global: “Como ‘O Jogo da Amarelinha’, de Cortázar, ‘O Cerco’ é um jogo de armar. À proporção que o escrevia, o escritor parece tê-lo desmontado e essa montagem/desmontagem lembra um pouco o brinquedo das reproduções de pinturas cuja tela, recortada em papelão, fragmenta-se em centenas de peças, a fim de que o montador possa descobrir o prazer de reconstituir a tela original. ‘O Cerco’ é uma novela a ser reconstituída. A realidade é um momento a ser captado por remontagem. A Revolução…”.

“Atento aos fatos narrados e ao colorido de cada passagem da novela, no final da leitura, o leitor estará diante de um quadro coerente, encantado tanto com a oportunidade da coautoria quanto com o modo como Carpentier sobre traduzir para a linguagem revolucionária o famoso tema do Testamento de Beethoven sobre os acordes da Heroica”, sublinha a nota editorial da Global.

Euler de França Belém

É jornalista e historiador.