Sicário não tem lado: trabalha para quem lhe paga. Nem pátria: na fronteira as identidades e as profissões se misturam. O criminoso de hoje é o policial de ontem. O matador além da linha divisória pode ser o soldado a serviço dos seus caçadores.
“Sicário, Terra de Ninguém” (Denis Villeneuve, 2015) é a perseguição e tocaia desse tipo de profissional que não sabe onde esconder os corpos de suas vítimas e por isso amontoa os cadáveres atrás de paredes falsas de uma casa abandonada no deserto. A descoberta desencadeia uma operação da Cia para chegar no assassino, usando métodos condenados de tortura e morte. Para isso conta com um ex-advogado (Benicio del Toro) que perdeu a família para o cartel de drogas e quer vingança. E convoca uma honesta agente do FBI (Emily Blunt) para acobertar as ações ilegais do grupo.
Os detalhes — que é onde mora o cinema — revelam a fragilidade dos protagonistas na operação de guerra. O agente da Cia que está na liderança nesse front (Josh Brolin) usa chinelo de dedo nas reuniões de cúpula; o ex-advogado treme quando dorme e acorda num sobressalto; o parceiro da polícia local implora por informações sob pena de abandonar o barco; a agente do FBI, divorciada, entrega-se para seu inimigo numa balada. As cidades mexicanas são grandes favelas. E a fronteira desértica, terra de ninguém, é o cenário desse drama conduzido por mais um roteiro de Taylor Sheridan, um renovador dos filmes de ação em cenários que limitam a justiça no confronto com máfias muito bem aparelhadas ou criminosos cheios de artifícios e truques.
Por mais bem armada que esteja a lei há nos roteiros de Sheridan a precariedade de policiais honestos, instituições infiltradas, corpos exaustos ou frágeis. Mas sempre persiste o que faz a justiça ser a única esperança. Por isso os diálogos são sussurrados, as revelações feitas na penumbra, e a honestidade cercada por um paiol de contradições.
Filme com Taylor Sheridan: o crime é poderoso, a lei tropeça, mas o cidadão com uma identificação outorgada pela nação em perigo tem ainda a força de um leão. Mesmo que no desfecho de uma operação a honestidade veja que a batalha está perdida e ela baixe a arma diante do algoz que deveria ser seu aliado. Mesmo que o campinho de futebol esteja cercado por cerrado tiroteio.
Filme: Sicario: Terra de Ninguém
Direção: Dennis Villeneuve
Ano: 2015
Gênero: Ação/Policial
Nota: 10/10