Baseado no romance de Katherine Paterson, “Ponte Para Terabítia” foi escrito para o filho da autora, David Paterson, que passou pela perda traumática de um amigo na infância. O nome Terabítia foi inspirado pelas Ilhas Terabíntias, descritas no livro “As Crônicas de Nárnia”, de C.S. Lewis. Décadas depois da publicação, David decidiu produzir o filme do livro de sua mãe. Distribuído pelos estúdios Disney, o longa-metragem teve um orçamento de 20 milhões de dólares e conseguiu arrecadar 137 milhões nos cinemas, além de conquistar boas avaliações de críticos.
Embora a Disney tenha vendido a história como aventura e fantasia, o enredo descreve o cotidiano de duas crianças comuns de 11 anos, Jesse (Josh Hutcherson) e Leslie (AnnaSophia Robb). A parte da magia fica por conta da imaginação dos amigos que, rejeitados na escola, criam um mundo particular e encantado, chamado Terabítia.
No bosque entre as propriedades de suas famílias, Jesse e Leslie passam suas tardes imaginando esquilogros (uma mistura de ogros e esquilos) que atacam seu forte, uma casa de árvore. Eles imaginam trolls gigantescos e acreditam que precisam resgatar prisioneiros do Mestre das Trevas. Antes de Leslie se mudar para a casa ao lado, Jesse era um menino muito solitário, que vivia com sua família pobre e tinha que suportar, além da pressão do pai severo, as irmãs mais velhas arrogantes e os valentões do colégio. A nova amiga traz mais alegria e leveza para sua dura realidade. Leslie também o ensina a ser mais destemido e criativo e o ensina que meninas também podem ser boas de corrida e habilidosas com ferramentas.
Leslie é uma presença que, sem dúvidas, não passa despercebida pelos lugares em que passa. Pela sua peculiaridade e criatividade, ela também não é bem recebida pelos colegas da escola, mas encontra em Jesse o companheiro bondoso e leal que precisa para a acompanhar em suas aventuras.
Até que um dia, uma tragédia acontece e a realidade impacta esse mundo de fantasia criado por Jesse e Leslie. Na época de sua produção e lançamento, várias negociações tiveram de ser realizadas entre David Paterson e a Disney, porque o filme era considerado pesado demais pelo estúdio. “Ponte para Terabítia” foi um marco na quebra de alguns paradigmas da Disney e abriu caminho para que outros filmes mais maduros e live-actions e animações com o tema da morte pudessem ser lançados pelo estúdio.
Anos depois, a Disney e outros estúdios até se dedicaram a criar produções que pudessem dar significado à morte para as crianças, como “Soul”, “Viva — A Vida é Bela” e “A Caminho da Lua”. Embora “O Rei Leão” já tivesse uma morte significativa em seu enredo, não houve uma abordagem tão aprofundada do luto de Simba. Mas é inegável que também tenha sido um marco.
“Ponte Para Terabítia” tem espaços muito bem demarcados de suas divisões de gênero: a fantasia e o drama, mas em alguns momentos eles podem se mesclar. A história de Katherine Paterson mostra como a imaginação das crianças é essencial na superação de traumas, criando fugas e reconstruindo emoções abaladas. Um dos personagens centrais da história passa por todos os cinco estágios dessa perda: negação, raiva, barganha, depressão e consegue se reerguer graças à imaginação. O roteiro tem uma forma bem delicada e sensível de construir esses estágios.
O elenco também conta com Robert Patrick, Zooey Deschanel, Bailee Madison e Kate Butler.
Filme: Ponte para Terabítia
Direção: Gabor Csupo
Ano: 2007
Gênero: Fantasia/Drama
Nota: 8/10