Ficções científicas estão sempre cheias de mensagens que passam despercebidas, pulando de uma entrelinha para a outra ajudadas pela força de efeitos especiais que mantêm o espectador ainda mais intrigado. Essa é a ideia de que Ben Foster e Mark Dennis se valem em “A Caverna”, relegando a filosofia a um nível mais baixo enquanto investe em imagens e diálogos em que a inadequação dos personagens vai se nos tornando cada vez familiar à medida que outras produções congêneres afloram à lembrança. No roteiro, apenas de Dennis, vão surgindo aqui e ali as evidências que ligam o filme a outras histórias já experimentadas pelo cinema, mas os diretores não veem dificuldade para achar os elementos que diferem seu trabalho de todos os outros, respaldados, segundo o costume, nas boas performances do elenco.
Um homem maltrapilho procura alguma coisa dentro de uma van sucateada no começo do filme. Parece não encontrar o que procurava originalmente, mas fica como se congelado diante de uma foto antiga, o que logo encaminha a trama para o grande mistério que a cerca, zelosamente conservado. Sobre a identidade dele, contudo, Foster e Dennis não fazem rodeio: trata-se de Hopper, o professor de arqueologia de Andrew Wilson, que há muito deixou de ter com a vida uma relação minimamente sã; porém, graças a alguma razão que, essa, sim, resta oculta, permanece no comando de uma classe de adolescentes, inclusive levando-os para aulas práticas nas formações rochosas na vizinhança da escola. Os diretores renunciam ao chavão mais óbvio e preservam o caráter lúdico, quase ingênuo, de uma espécie de caça ao tesouro — e, portanto, a referência ao cult infantojuvenil “Os Goonies” (1985), de Richard Donner, não tem nada de acidental. Todos os outros arquétipos dessas histórias, trabalhados com maior ou menor sofisticação, resistem, no entanto: Veeves, a garota descolada, personagem de Olivia Draguicevich; Taylor, o mocinho destemido, interpretado por Reiley McClendon; e claro, Furby, o gordinho composto por Max Wright; além de umas duas ou três figuras nesse mesmo diapasão. No núcleo adulto, Brianne Howey como Jackie, a paixão platônica de Furby, confere dinamismo ao filme no momento em que o argumento central aproxima-se do esgotamento, mérito também do próprio Wright, que protagoniza uma sequência hilária em sua escatologia inofensiva, que, admito, me desconcentrou bastante.
A metáfora do resgate do perdido, amparada nos rudimentos da física einsteiniana mais elementar, sobre a subjetividade do tempo, sabe àqueles flashes que temos de quando em quando acerca do haveria sido de nossas vidas se tivéssemos optado por este ou aquele caminho, por guardar o dinheiro ou comprar o doce, como no poema de Cecília Meireles (1901-1964). O problema do adulto é que ele quer tudo, e quando se dá conta de que não o pode, o tempo passou. E o tempo que passou é passado.
Filme: A Caverna
Direção: Ben Foster e Mark Dennis
Ano: 2017
Gêneros: Ficção científica/Aventura
Nota: 8/10