Filme na Netflix é um nocaute emocional e vai te manter na ponta da cadeira até o segundo final Karen Ballard / Lionsgate Films

Filme na Netflix é um nocaute emocional e vai te manter na ponta da cadeira até o segundo final

É preciso perna e fôlego para enfrentar uma maratona. Para feri-la de morte basta atingir a base abaixo da cintura da competição. Sem as pernas a respiração e o treinamento não bastam para cruzar a linha de chegada. Para focar na essência do evento, o filme “O Dia do Atentado (2016) destaca as pernas feridas pelas bombas de dois terroristas espalhadas na pista da corrida e no espaço da multidão que assistia. Acompanha a pronta reação dos profissionais da saúde e da segurança reportando os curativos e as amputações na tragédia. E para identificar o policial (Mark Wahlberg) que costura o andamento do roteiro disperso em múltiplas ações simultâneas, mostra sua dificuldade de andar já que machucou o joelho no dia anterior forçando a porta de um apartamento suspeito na rotina diária de perseguição e cerco.

Assim, podemos seguir os passos prejudicados do sargento da polícia local misturado ao pânico geral do Dia do Patriota, que é o título original do filme. Junto com esse destaque dos ferimentos abaixo da cintura num evento totalmente focado nas pernas, o filme trabalha a sucessão dos departamentos envolvidos na investigação, com o FBI tirando o comando da polícia de Boston, os especialistas em bombas suplantando o FBI no confronto com o terrorista escondido, os experts em interrogatórios assumindo a pressão sobre uma testemunha etc. Os conflitos gerados por esse processo são resolvidos com disciplina, hierarquia, lógica, colaboração mútua, muitas vezes à revelia.

A dualidade dos personagens é mostrada pela tensa relação entre os profissionais e seus familiares, entre o desespero da situação e os resultados práticos que levam à caça dos assassinos, e a imagem partida dos terroristas, não mais manipulando tecnologia como no 11 de setembro, mas bombas caseiras. E não mais o aspecto rude de jihads, mas jovens afamiliados e aparentemente pacíficos. Há também a dualidade da esposa americana do terrorista muçulmano (que atribui o 11/9 ao governo americano): para escapar ao interrogatório ela fala da lealdade, submissão e força das mulheres da sua religião. Ou seja, a mulher é protagonista e coadjuvante ao mesmo tempo entre os seguidores de Maomé.

A multidão aterrorizada que reage com solidariedade, o cidadão sem segurança que se firma no patriotismo, as dúvidas sobre a ação da polícia que se transformam em aplauso geral fazem desse filme dividido que começa morno e termina emocionante uma grata surpresa, mesmo que os fatos possam dizer outra coisa. Vale pelo filme.


Filme: O Dia do Atentado
Direção: Peter Berg
Ano: 2016
Gêneros: Thriller/Drama/Biografia
Nota: 9/10

Nei Duclós

Escritor e jornalista.