Taylorismo estatístico com recursos digitais aplicado ao beisebol para conseguir a vitória com poucos recursos, mas com a gestão eficiente de competências. Parece até missão corporativa, mas é apenas a síntese que encontrei para o filme “O Homem que Mudou o Jogo”, de 2011, dirigido por Bennett Miller. O roteiro é do competente Steven Zaillian (“Tempo de Despertar, “A Lista de Schindler, “Millenium”, “Gangues de Nova York”, “A Intérprete” etc.), baseado no livro de um especialista no assunto esporte, Michael Lewis, “Moneyball: A Arte de Vencer um Jogo Injusto”. Outro livro de Lewis já tinha nos dado o bom filme “Um Sonho Possível” (2009), sobre o futebol americano.
“O Homem que Mudou o Jogo” contou com a produção de Brad Pitt, que também interpreta o gerente todo-poderoso Billy Beane, ex-jogador que acredita carregar a maldição de ser pé-frio, por isso não assiste os jogos do seu time. Ele é coadjuvado pelo surpreendente gordinho Jonah Hill no papel do formado em economia em Yale, Peter Brand, fonte da mudança de que nos fala o título. O scholar trouxe a ideia, as estatísticas, mais importante do que o carisma dos jogadores, o lugar comum da valorização pelas aparências e a visão unilateral do jogo.
Pois jogo é negócio e busca o lucro. Para remunerar o investimento é preciso vencer e para vencer só acumulando o maior número de pontos. Não importa o jogador, a performance na temporada, a experiência ou mesmo a riqueza do time. Importa é ser campeão. Não conta o tal espírito esportivo, nem entre os torcedores, que se o clube não vence dão as costas par ele nos estádios, ameaçam os jogadores e jogam tudo no gramado. Ganhar é o que conta. Então precisa saber que o caminho da vitória não são os craques ou a fama da camisa, mas os pontos ganhos. E isso se consegue colocando as pessoas certas no lugar certo para que cada posição contribua para o resultado. Não se deve jogar toda a responsabilidade em cima de alguns craques, mas é preciso fazer com o que o time todo some até chegar ao nível esperado, o título.
Essa lógica enfrenta ruído. Os gestores tradicionais acreditavam que se tratava apenas de montar equipes a partir da valorização dos jogadores, fazendo os preços da temporada subir à estratosfera. Billy Beane não contava com muitos recursos, revelava jogadores bons que eram vampirizados pelos times grandes. Precisava de uma solução e ela veio por meio da teoria de que era preciso compor a equipe a partir do que cada um poderia render em função do resultado, fosse ele valorizado ou não. Numa pesquisa, foram selecionados alguns jogadores considerados “bondes”, mas eram apenas mal aproveitados, ou vítimas da máquina de moer carne do sistema formado pelas aparências e as ideias fixas.
Com pouca verba e jogadores tidos como problemáticos e ultrapassados, o time conseguiu chegar à final. Não venceu, mas provou que a teoria funcionava. “Os críticos acham que isso nada tem a ver com o jogo, mas eles estão apenas preocupados com seus empregos”, diz o executivo do Red Sox quando convida Bean para dirigir o time (ele não aceita, prefere ficar no Oakland, onde está até hoje procurando ser campeão). “Depois do que você vez, todo o time que fizer o contrário será considerado um dinossauro.”
Vemos no futebol como inflacionam os valores de jogadores em função da corrupção e da lavagem de dinheiro. Tudo isso é baseado numa mentalidade pré-Billy Beane. Além de se basear nas estatísticas, é preciso selecionar em função do rendimento de cada um, pegar o touro a unha, mudar de rumo quando necessário, fazer as trocas de craques, ousar. Gestão bruta de recursos e gente pesada que vive do esporte. Como o indiferente e defasado treinador interpretado pelo magnífico Philip Seymour Hoffman, que com Brad Pitt, George Clooney, Matt Damon e Ricardo Darin faz parte do cânone da interpretação de hoje, uma lista que talvez não ultrapasse uns dez nomes.
Brad Pitt se supera. Quando pressiona alguém em cena, mete medo, como aconteceu quando interpretou Jesse James. Tem um carisma impressionante e sabe o que faz diante das câmaras. Jonah Hill me parece um novo Dustin Hoffmann, o sujeito meio torto que se impõe pelo enorme talento. O cruzamento entre matemática e administração num nicho inédito gerou uma excelente história e uma atualização sobre o que pega no esporte hoje.
Filme: O Homem que Mudou o Jogo
Direção: Bennett Miller
Ano: 2011
Gêneros: Drama/Biografia
Nota: 10/10