A deliciosa comédia da Netflix que vai melhorar o seu dia automaticamente Divulgação / Warner Bros

A deliciosa comédia da Netflix que vai melhorar o seu dia automaticamente

Um filme que se passa quase que completamente em uma sala de espera de um consultório médico, “Toc Toc”, de Vicente Villanueva, foi escrito por ele em parceria com Laurent Baffie e lançado em 2017. O enredo reúne um grupo de pessoas peculiares na recepção de uma clínica devido a um erro do sistema, que agenda os complexos pacientes do doutor Palomero em um mesmo dia e horário. Para piorar, o voo do profissional sofre um atraso, obrigando essas pessoas a passarem horas juntas.

Federico (Oscar Martínez) é o primeiro a chegar para ser atendido pelo psiquiatra doutor Palomero, especialista em Transtorno Obssessivo Compulsivo (Toc). O paciente sofre de Síndrome de Tourette, que o faz dizer palavrões e fazer gestos obscenos involuntariamente. Emilio (Paco León) é um taxista e aritmomaníaco, que não consegue controlar o impulso de fazer cálculos matemáticos com tudo que existe e acontece ao seu redor.

Além dos dois, há também Blanca (Alexandra Jiménez), uma assistente de laboratório que tem misofobia, que é pavor de micro-organismos. A todo momento ela higieniza as mãos, lava o rosto e não toca nas pessoas e objetos. Já Lili (Nuria Herrero) tem ecolalia e repete tudo o que fala. Otto (Adrián Lastra) é obcecado por simetria e não pisa em cima de linhas. Ana María (Rossy de Palma) é maníaco religiosa e não consegue conter todas as vezes em que faz sinal da cruz e clama por Deus.

Quando esse grupo inusitado e cheio de manias começa a interagir, coisas estranhas acontecem no consultório. E aí eles partem para discussões, análises dos comportamentos uns dos outros, compartilham suas histórias, brigam, fazem as pazes… e, no fim das contas, eles vão aprender mais sobre si mesmos que durante uma avaliação comum com um terapeuta.

O filme tenta dar leveza para problemas que são sérios usando os estereótipos e extremos e transformando-os em humor. O filme poderia ter errado a mão e contado piadas ofensivas, já que o sofrimento é real para quem sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo. Mas as representações do distúrbio são tão ingênuas e bonachonas, que é impossível olhar para essa comédia com uma visão endurecida.

O interessante é que a primeira impressão que os personagens têm uns dos outros são sempre impactantes, mas conforme se conhecem melhor, percebem como suas personalidades são adoráveis, traçam vínculos um com outro e descobrem que cada um é muito mais que as condições patológicas que os levaram até ali.

Durante aquele breve período de convivência, os pacientes são expostos aos seus maiores gatilhos e agem compulsivamente, recebem o suporte emocional de outras pessoas que compreendem exatamente o sentimento, porque vive situação similar. O filme vence por não minimizar os problemas e não ridicularizar pessoas com Toc, mas mostrar como elas sofrem aflições e ansiedades e precisam ser compreendidas ao invés de julgadas.

Ultimamente, é grande a discussão sobre o que vale no humor. Enquanto uns defendem que vale tudo por uma piada, inclusive perder o amigo e ofender pessoas, outros acreditam que existe um limite. Há sentimentos e emoções que precisam ser respeitadas e não expostas. Muitos veem isso como mimimi. Mas “Toc Toc” é esperto em não desprezar a dor das pessoas que sofrem do transtorno, mas humanizá-las de um jeito cômico e bem-humorado.


Filme: Toc Toc
Direção: Vicente Villanueva
Ano: 2017
Gênero:
Comédia/Drama
Nota: 7/10