Pensemos na terra, antes da existência humana. Quem apreciava a beleza dos jardins, dos mares, das cachoeiras? A quem encantavam? Quem inventou o prazer intelectual de pensar sobre tais coisas? São mistérios que desafiam a imaginação dos pobres mortais. E, até mesmo, dos poetas, dos filósofos e dos cientistas.
O certo é que a natureza produz os seus mistérios. E os guarda a sete chaves. Como ensina a máxima budista: “A cada homem é dada a chave dos portões do paraíso; a mesma chave abre os portões do inferno”. Resta-nos questionar: quem escondeu o manual com as instruções?
E veio o homem e criou os deuses. E criou a filosofia. E criou a ciência. E criou a energia nuclear. E criou o ChatGPT. E, ainda, não se deu por satisfeito, como anotou o cientista Richard Feynman, diante do que parecia o mais incrível: “(…) estarmos todos presos por uma atração misteriosa, metade de nós de cabeça para baixo, a uma bola giratória que dança pelo espaço há bilhões de anos”.
Tanto fez que rompeu os seus limites, aparentemente intransponíveis, quando logrou aventurar-se pelo espaço. E pousou na lua. De onde apreciou “um pequeno e pálido ponto azul”. O que falta mais? Dar sentido a tudo isso? Independente da ambição e do querer humano, novamente Feynman nos lembra: “Um ácaro faz o mar rugir”. Parece pouco?
Também, indiferente ao olhar humano, que não as vê, as moléculas e átomos, continuam a bailar. Executam a complexa dança que ensaiam desde tempos imemoriais. E (mais uma vez), como registrou o cientista Feyman, quando se travestiu de poeta: “Em pé junto ao mar… assombra-se com o assombro… Eu… um universo de átomos… um átomo no universo”.
Independente da nossa vontade (ou apesar dela), a nave continua a deslizar sobre o vazio (aparente), repleta de matéria, com uma pretensa consciência e uma inquebrantável curiosidade dos que nela habitam. E isso não é nenhuma brincadeira, não é mesmo sr. Feyman? Afinal, ainda, não estamos mortos.