Ganhador do Oscar de melhor roteiro original e indicado em outras três categorias, de melhor filme, melhor direção e melhor ator, “Encontros e Desencontros” é um longa-metragem escrito e dirigido por Sofia Coppola, que fez história ao ser a primeira mulher a receber tantas indicações em um mesmo ano. Filmado com um orçamento de apenas 4 milhões de dólares e em 27 dias, o filme chegou a faturar quase 120 milhões em todo o mundo.
Por ser um projeto sentimental para Coppola, ela decidiu usar câmeras analógicas ao invés de digitais, contrariando os conselhos de seu pai, o renomado Francis Ford Coppola. Para ela, os filmes seriam mais românticos, embora menos modernos. O enredo é inspirado por sua própria história, enquanto vivia uma crise em seu casamento com o também diretor de cinema Spike Jonze.
Scarlett Johansson interpreta Charlotte, uma jovem casada com o diretor de videoclipes musicais, John (Giovanni Ribisi). Ela está o acompanhando durante uma viagem a trabalho em Tóquio. Mas o marido passa tanto tempo ocupado, que isso faz com que Charlotte se sinta solitária e perdida em uma cidade estranha. Mas não apenas isso, ela se sente desconectada de tudo, como se não houvesse um lugar no mundo para ela. Um dia, Charlotte conhece o famoso ator Bob Harris (Bill Murray), que está hospedado no mesmo hotel. Ele está no Japão para gravar um comercial para uma marca de uísque. Charlotte e Bob sentem uma conexão imediata.
No entanto, o que eles sentem um pelo outro não é exatamente sexual ou romântico, mas uma conexão de almas. É como se Charlotte aterrissasse novamente no Planeta Terra quando o encontra. Ela pode se sentir humana novamente, se sentir normal. A companhia do outro faz com que eles se sintam menos sozinhos e menos incompreendidos.
Talvez fosse o fato de que ambos estivessem se sentindo frustrados e fora de seus próprios corpos ou talvez fosse o fato de os dois serem os únicos a falar inglês naquele território estrangeiro. O título original do filme “Lost in Translation” é exatamente sobre como algumas palavras ou expressões perdem o significado na tradução. Ter uma pessoa com quem você consegue se comunicar em um lugar desconhecido e tão diferente culturalmente é fundamental para não se sentir tão sozinho e desconectado do mundo. No filme, isso funciona no sentido literal, mas também emocional.
“Encontros e Desencontros” é sobre intimidade. John, que é casado com Charlotte, não a conhece e nem é capaz de enxergá-la como Bob, que acabou de conhecê-la. Se por um lado, Coppola fez o filme para expressar como se sentia nos suspiros finais de seu casamento com Jonze, que acabou na mesma época do lançamento deste filme, dez anos depois ele também contou como se sentiu em relação a Coppola no longa-metragem “Ela”, que também foi estrelado por Scarlett Johansson e ganhou o Oscar de melhor roteiro original.
A fotografia de “Encontros e Desencontros” era tão clara na mente de Coppola, que ela fez um livro de fotos, antes das filmagens, para mostrar como queria que suas cenas fossem capturadas, do ponto de vista estético. É perceptível o uso de câmeras na mão do operador, se movendo com o movimento de seu corpo; imagens furtivas, como as do metrô, até porque a equipe não foi autorizada a filmar no local, então as gravações foram feitas escondidas; ainda, a semelhança das capturas como de um documentário. A diretora queria que as filmagens parecessem uma documentação de fatos.
Com pegada de cinema independente e com uma linguagem bem introspectiva e sincera, o filme é daqueles que nos ganham pela emoção. Ao contrário de “Maria Antonieta”, da mesma diretora e lançado três anos mais tarde, um filme super preocupado com uma estética exagerada e rica em detalhes, em “Encontros e Desencontros” o menos é mais. É por meio das atuações ultrasensíveis, da justaposição entre drama e comédia e dos diálogos significativos que o filme se constrói e se torna grandioso.
Filme: Encontros e Desencontros
Direção: Sofia Coppola
Ano: 2003
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 10/10