Filme romântico corre o risco de ser piegas quando não há conflitos ou quando esse confronto entre sentimento e realidade encontra soluções fáceis. Quanto maior for a encrenca melhor o filme. Essa é a diferença entre a lacrimosa água com açúcar e os filmes de amor que nem parecem de amor. Há uma vasta diferença entre “Lagoa Azul”, em que a vida é no paraíso, e “Esqueça Paris”, que é um inferno até as diferenças encontrarem um ponto comum, superando os conflitos sem solucioná-los inteiramente.
Um filme de guerra pode ser romântico sem assumir a relação a maior parte do tempo. É o caso de “Lágrimas do Sol”, 2003, que traz uma dupla explosiva, o carisma de Bruce Willis e a magnífica Mônica Bellucci. O tenente Wayne rompeu com os próprios hábitos de sobrevivência na guerra da selva e decidiu voltar atrás quando já estava salvo e foi proteger os moradores de uma missão dirigida por uma médica. No seu encalço 300 soldados rebeldes estão prontos para cair em cima dele e destruir seu grupo.
Mas as aparências enganam. Ele não voltou porque se importava agora com as pessoas, como pensou. Nem seu problema maior é a presença do exército inimigo ou o abandono do seu chefe, que não mandou mais helicópteros porque ficou furioso com suas decisões.
Ele voltou, descobriu no final, porque não podia mais ficar longe da médica nem a contrariar. A médica é uma suada e ética beldade absoluta. Antes de conhecê-la, o tenente Bruce Willis era apenas um matador do exército americano convocado para salvar vidas brancas na selva nigeriana. Só que a doutora Mônica Bellucci se opõe e quer que os nativos da missão onde trabalha sejam salvos. O bruto cede à pressão da estonteante médica depois de levar uns tapas dela. Homem que é homem apanha de mulher. Quem bate não é do ramo.
O amor estava condenado à morte no coração da selva. Mas se trata de la Bellucci. Quem não arriscaria o pescoço e a carreira levando à morte a maioria dos companheiros se uma beldade dessas salvadoras de vidas não estivesse lá no coração das trevas, suja, furiosa, belíssima berrando com os soldados?
Pobre Bruce Willis, que perde tudo, principalmente a carreira, mas vira um bruto sortudo ao ser tocado pela misteriosa mágica do amor. E sorte nossa, que sem enfrentar selva nem soldados estamos refugiados num filme sobre cinema romântico no meio da barbárie.
Filme: Lágrimas do Sol
Direção: Antoine Fuqua
Ano: 2003
Gêneros: Thriller/Guerra/Ação/Drama
Nota: 9/10