5 livros que você deveria ler em 2023

5 livros que você deveria ler em 2023

Martin Heidegger (1889-1976), um dos pensadores mais completos — e complexos — da história, defendia a necessidade do recomeço como uma das questões centrais da vida. Entre outros pontos, é fulcral no pensamento de Heidegger a valorização das muitas descobertas que o homem faz no decorrer de uma vida que sempre lhe parece demasiado curta (e o é mesmo), mas decerto ganha outras cores, um viço inesperado, uma força qualquer poderosa o bastante para fazê-la desviar do precipício ao passo que nos instiga a recorrentemente testar limites novos, como se mais do que oxigênio, água e pão, tivéssemos de nos suprir primeiro de uma boa matula de acaso. A irrequietude do homem frente ao passar do tempo — incansável, inclemente, cruel — e sua cornucópia de mistérios cuja solução é meramente ilusória, dá ao gênero humano das poucas certezas que se consegue garimpar desse campo lodoso e edênico que é a vida: jamais se deve deixar passar uma boa oportunidade.

Poucas ideias remontam à imagem de aproveitamento do mundo, deste e mesmo de algum outro, em que passam a habitar — agora encantados, como diria Guimarães Rosa — aquelas mulheres e homens raros que ocuparam lugar de destaque na Terra, que uma narrativa de linguagem escorreita, plena de líricas alegorias, sobre a vida e, tanto mais, sobre o pós-vida de dois orgulhos que a brisa do Brasil não mais balança, e muito menos beija. “A Vida Futura” (Companhia das Letras) do jornalista Sérgio Rodrigues, tem a pretensão de interromper o sono eterno de ninguém menos que Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) e José Martiniano de Alencar (1829-1877), dois dos grandes conhecedores do vernáculo deste chão descoberto por Cabral, além, por evidente, de contadores de histórias de talento incomparável. Em “A Vida Futura”, Rodrigues compõe uma análise bem a seu estilo, acerba, contundente, precisa, sobre o “novo português” que se passou a falar no Brasil desde que vieram à baila pautas urgentes e justas como o tratamento mais digno a pessoas não binárias, aquelas que não se identificam como de um gênero em específico. Filólogo amador (e dos bons), o autor chama a atenção para o problema da tal linguagem neutra, perigosa justamente por reforçar preconceitos. “A Vida Futura” e outras quatro publicações brasileiras constam da nossa lista com os romances aos quais você deve se lançar em 2023, ou se lançar de novo. Os textos das sinopses foram fornecidos pelas respectivas editoras, adaptados e acrescidos de nossa visão sobre as obras. Leia (ou releia) todos e diga-nos o que achou.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.