Meninas e meninos, eu li o romance “O Crime no Edifício Giallo”, de Luiz Biajoni, e não desvendei o mistério na metade do livro. O que é um bom sinal. Significa que a trama inspirada na tradição do “giallo” proposta pelo autor funcionou. Essa palavra significa amarelo em italiano e designou um gênero literário calcado em narrativas de suspense e investigação surgido a partir da década de 1920. Eram livros baratos, com capas amarelas, vendidos em bancas de jornal, equivalendo aos “pulp fiction” dos americanos. O cinema abraçou o estilo, ganhando trabalhos de mestres como Dario Argento e Ennio Morricone, fazendo-o ganhar imensa popularidade e sofisticação entre as décadas de 1960 e 1980.
Da mesma forma que Quentin Tarantino atualizou a “pulp fiction”, Luiz Biajoni trouxe o “giallo” italiano para o século 21, dando-lhe um registro pós-moderno calcado em releituras e desconstruções do estilo. A partir de uma narrativa aparentemente tradicional, são inseridas diversas referências aos clássicos “amarelos”, misturando-as com elementos muito contemporâneos. A trama envolve obsessões sexuais, famílias disfuncionais e jogos de aparências, a partir do assassinato de um homem negro, rico e homossexual em um edifício de alto padrão.
A estrutura do livro, em três atos, começa apresentando o crime e os suspeitos como uma espécie de “Crônica de uma Morte Anunciada”. A segunda parte problematiza os fatos e as possibilidades de culpa. Finalmente, como mando o figurino, no terceiro ato os investigadores dissecam o que realmente aconteceu diante dos olhos dos leitores. Se a solução não é surpreendente e, no mínimo, inusitada, brincando com os limites da verossimilhança. Algo típico do “giallo”, aliás. Vale destacar que o mais interessante do desfecho do livro é a revelação de que alguns dos principais suspeitos são inocentes, mas não tão inocentes assim. Paro por aqui. Revelar mais do que isso estragaria o impacto da descoberta.
Um aspecto importante de “O Crime no Edifício Giallo” é que a obra extrapola os limites do livro. O autor, inspirado nas magnificas trilhas giallo da célebre banda Goblin, produziu um acompanhamento sonoro original para seu romance, que pode ser acessado por QR codes espalhados pelas páginas ou baixado completo na internet. Pós-moderno pouco é bobagem.
Li em algum lugar que o amarelo é a cor mais evidenciada pelo olho humano. Por isso significa “atenção” no trânsito. O livro de Luiz Biajoni dá um novo significado para essa informação de Wikipédia.
Livro: O Crime no Edifício Giallo
Autor: Luiz Biajoni
Páginas: 191 páginas
Editora: Rua do Sabão
Nota: 8/10