Novo suspense da Netflix vai te arrastar para dentro e tirar seu fôlego por 120 minutos

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O cinema turco vem se constituindo um gênero a parte no cinema. As tramas sempre envoltas na bruma de um evento obscuro qualquer, tornado ainda mais intenso diante de montanhas rochosas a perder de vista, costumam partir de situações nada ordinárias para chegar a histórias entre absurdas e comoventes e essa é mesmo a intenção de Uluç Bayraktar em “10 Dias de um Homem Bom”. O sujeito virtuoso apresentado por Bayraktar tenta contornar seus fracassos, reinventa-se, luta contra seus demônios; entretanto, como se pairasse no ar um elemento desconhecido que atraísse a natureza humana para a inevitável desdita, uma nuvem de acontecimentos sem explicação à primeira análise o cerca e o obriga a tomar atitudes que até então julgava inadmissíveis, jogo narrativo pleno das acrobacias retóricas de filmes assim.

O diretor substitui a paisagem bucólica de produções como “Milagres Do Amor” (2019), de Mahsun Kırmızıgül, pelo caos de uma Istambul em constante metamorfose social. Imagens como as de um sonho, em azul néon — recurso de que Bayraktar se socorre mais de uma vez no transcurso das duas horas de projeção —, induzem o público a imaginar que o roteiro de Damla Serim e Mehmet Eroğlu não há de passar das insinuações sobre o dia a dia de Sadik Demir, o tal homem bom do título. Sadik, um ex-advogado que envereda por uma carreira acidentada como investigados particular, é o anti-herói do livro homônimo de Eroğlu, e muito mais que a figura sempre cercada de saborosas minudências do texto do escritor, deixa claro seu desalento no mundo. Estranho, um tanto marginal, Nejat Işler capta à perfeição as nuanças pouco óbvias de um personagem riquíssimo. Sadik até parece um homem comum, mas como de perto ninguém é normal, fala sozinho, bebe uísque e leite com a mesma vontade e se sente atraído por garotas desabridamente suspeitas como Pinar, a prostituta juvenil vivida por Ilayda Alisan. Justamente por Pinar é que começa a busca meio insana de Sadik por Tevfik, outro dos tipos malditos aos quais a pena de Eroğlu dá vida, aqui interpretado por Ata Artman. A essência torta do protagonista combina com esse universo lúgubre em que habita, cheio de almas condenadas como ele próprio, e aqui importa menos o que é contado do que de que forma é contado, mantendo-se a inclinação noir do texto original.

Em se confirmando a tendência de se reproduzir no cinema todas as histórias sobre Sadik, este trabalho de Bayraktar terá sido o primeiro de uma trilogia, cuja segunda parte, “10 Dias de um Homem Mau”, está agendada para estrear em 18 de agosto de 2023. O desfecho dá mesmo uma ideia de continuidade da história, que se alicerça sobre a estrutura de uma saga, desvelando o lado mais cínico da personalidade de Sadik, homem que muda de nome, de temperamento e de hábitos ao sabor das conveniências.


Filme: 10 Dias de um Homem Bom
Direção: Uluç Bayraktar
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Mistério/Suspense
Nota: 8/10