Há algo de tão semelhante entre “Meu Nome é Chihiro” e “Bonequinha de Luxo” que ouso dizer que o segundo inspirou o primeiro. Acontece que os dois filmes são encantadores e doces, têm personagens carismáticos e giram em torno de acompanhantes. A diferença deste filme de Rikiya Imaizumi é que Chihiro/Anya (Kasumi Arimura) não encontra o amor como a Holly Golightly, de Audrey Hepburn, e nem é tão apegada aos bens materiais. Mas ambas têm um passado misterioso e resistem, à todo custo, de entregar seu coração para um homem qualquer.
E é nessa mesma atmosfera de delicadeza e doçura que elas levam suas vidas. Mas em “Meu Nome é Chihiro”, Anya é uma mulher que trabalhou durante um tempo como acompanhe, sob o pseudônimo de Chihiro. Agora, em busca de reconstruir sua vida, deixa o emprego no ramo do sexo, se muda para uma cidadezinha litorânea e é contratada em uma loja de bentô, uma espécie de marmitaria.
Chihiro parece estar fugindo de algo do seu passado e, em determinado momento, chega a dizer que levou “uma facada nas costas de alguém que gostava muito dela”. Embora ela nunca mais fale do assunto durante o filme, sabemos que alguém a feriu emocionalmente. Apesar dos flashbacks, Imaizumi não nos dá muitas pistas de como sua protagonista chegou onde chegou ou dos motivos. Sua história de vida é um mistério e, ao contrário de Holly Golightly, Chihiro não se revela casada com um homem pobre.
Em uma conversa íntima com sua empregadora, Tae (Jun Fubuki), dentro de um carro, ela revela que sua mãe morreu e que ela não sentiu nada quando isso aconteceu. Em outra cena, ela confessa para a amiga trans, Basil (Van), que não consegue se entregar ao amor como as outras pessoas. Ou seja, há alguma trava emocional em Chihiro, que apesar conquistar todos ao seu redor com seu carisma, não consegue se apegar a ninguém. Quais os motivos disso? O filme não conta.
Inspirado no mangá “Chihiro-san”, de Hiroyuki Yasuda, publicado entre os anos de 2017 e 2018, o longa-metragem se preocupa apenas em construir o presente de sua protagonista, fazendo do passado uma incógnita ou o deixando ao encargo do espectador criar sua própria narrativa.
São mais de duas horas de filme e, apesar de ser lento, não é enjoativo. Algumas cenas são bastante contemplativas, mostrando Chihiro caminhando à beira-mar ou apenas comendo. Há muitos silêncios. Mas a história gira, basicamente, em torno das amizades que ela faz na nova cidade. Chihiro tem uma personalidade tão doce, cativante e humilde, que ela conquista todas as pessoas ao seu redor. Sempre que algum homem tenta flertar com ela ou que alguém tenta maltratá-la, ela responde com elegância e gentileza, desarmando-os. Não demora para que toda a cidade esteja aos seus pés.
Dessas interações, as mais importantes são com sua nova empregadora, Tae, que passa por problemas de saúde; com uma estudante solitária e filha de pais opressores, Kuniko (Hana Toyoshima), a quem Chihiro ajuda a fazer amizade com Bechtin (Itsuki Nagasawa); Makoto (Tetta Shimada), um garotinho carente, filho de uma mãe solo muito ocupada com o trabalho; e Utsumi (Lily Franky), seu antigo empregador a quem considera como um pai. São essas amizades que conduzem o filme e se desenham os belíssimos diálogos.
“Meu Nome é Chihiro” é daquelas obras que arrancam dez toneladas de peso das nossas costas. É um recarregador de energias boas. Um filme leve, doce e confortável para descansar a cabeça e o coração.
Filme: Meu Nome é Chihiro
Direção: Rikiya Imaizumi
Ano: 2023
Gênero: Drama
Nota: 8/10