As previsões mais pessimistas para 2023 foram superadas. Mas mesmo diante das incertezas e falta de esperança, é possível tentar buscar algum alívio nos pequenos prazeres do cotidiano, como assistir a um bom filme, que nos ajude a acalmar a alma e deixar nosso espírito um pouco mais leve. Para facilitar de nossos leitores, a Revista Bula reuniu em uma lista seis indicações de filmes edificantes, lançados nos últimos anos, e que estão disponíveis no catálogo da Netflix. Entre os selecionados, destacam-se “Milagre Azul” (2021), de Julio Quintana; “Paddleton” (2019), de Alexandre Lehmann; e “Mais Uma Chance” (2018), de Tamara Jenkins. Os títulos disponíveis na Netflix estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.

Baseado em uma história real, “Milagre Azul” conta a história da Casa Hogar, um orfanato que está à beira da falência. O dono do abrigo, Omar, se inscreve em um campeonato de pesca para tentar impedir que o governo feche o local. Na companhia do capitão do barco, Wade, e três crianças, o tutor sai em uma aventura em alto mar, com poucas chances de sucesso, para salvar o futuro da Casa Hogar.

Sozinhos, sem quaisquer vínculos familiares e com alguns problemas sociais, os vizinhos Andy e Mike foram feitos um para o outro. Eles não sabem ao certo o que é a felicidade, mas felicidade para eles é comer pizza congelada todos os dias, assistir a filmes antigos de kung-fu, tentar decifrar enigmas bestas e, claro, praticar paddleton, um jogo inventado pelos dois. A vida nada empolgante desses amigos segue um curso monótono, mas perene na comédia dramática de Alexandre Lehmann, até que Mike é diagnosticado com câncer no estômago e sente que não vai viver muito mais. A fim de preservar sua qualidade de vida e o pouco que lhe resta de sanidade mental, Mike toma uma decisão: prefere morrer o mais breve possível, enquanto ainda tem saúde, por meio do suicídio assistido, legalizado em alguns estados americanos.

Sonhos podem se tornar obsessões, que por seu turno podem virar um grande problema. O casal Rachel e Richard enfrenta um momento delicado, precisamente por não saber que existem limites que devem ser respeitados mesmo quando se trata de alcançar o propósito mais nobre de suas vidas. Interpretados por Kathryn Hahn e Paul Giamatti, os protagonistas de “Mais Uma Chance” só pensam em como será poder ter, afinal, a sensação de serem pais, algo por que vêm batalhando há muito tempo. E tempo é um dos fatores que joga contra eles. Na dramédia dirigida por Tamara Jenkins em 2018, Rachel e Richard já passaram dos quarenta — ela tem 41 anos; ele, 47 —, mas seguem firmes quanto a realizar a aspiração maior que os une, ter um filho. O tempo de que não dispõem mais é, sim, um grande adversário, mas na verdade há outras evidências atirando-lhes na cara o quão exaustiva pode ser essa jornada. Rachel já não é mais fértil e Richard tem um único testículo e ele está bloqueado, ou seja, é capaz de produzir esperma, mas não espermatozoides. Em outras palavras, o sonho está se rendendo à força de uma realidade cruel.

Uma viúva solitária e insone decide convidar o vizinho, também viúvo e também insone, para dormir em sua casa. A proposta inusitada, que almeja dar aos dois a chance de uma noite de repouso, deixa o professor aposentado atônito a princípio, mas à medida que eles seguem com a empreitada, esses dois veteranos das dores da alma percebem que começa a florescer uma bela amizade. “Nossas Noites” certamente foi feito sob medida para Robert Redford e Jane Fonda, dois dos maiores expoentes da era de ouro do cinema. Os dois estrelaram dezenas de clássicos, foram premiados com alguns Oscars, contracenaram três vezes e arrebataram público e crítica, trabalhando ora separados, ora juntos, mas sempre apresentando um desempenho admirável.

O filme conta a história real de Aziz. Ambientado na Turquia, na década de 1960, o professor Mahir Ögretmen é transferido para o interior e, chegando lá, descobre que a escola ainda não foi construída. Ao se deparar com a ansiedade das crianças e o desejo de estudar, ele decide ficar e construir a escola com seu próprio dinheiro. Entre os alunos acolhidos pelo professor está Aziz, um menino deficiente que se comunica por meio de desenhos.

O filme conta a história de Stephen Hawking, astrofísico britânico que fez descobertas relevantes para a ciência. Aos 21 anos, ele se apaixona por Jane Wilde, uma estudante de Cambridge, mas logo é diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença motora degenerativa. Jane decide continuar ao lado do namorado e os dois se casam. Contrariando os diagnósticos médicos, Hawking tem três filhos com Jane e persiste em seu trabalho intelectual, tornando-se um dos cientistas mais aclamados do mundo.
Bônus
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O italiano Gabriele Muccino quer envolver o público numa atmosfera de otimismo voraz. Desabridamente idealista, onírico, “À Procura da Felicidade” é uma exaltação ao sonho, ao delírio, quiçá à loucura, tudo com métodos milimetricamente estudados e de eficiência comprovada — não por acaso, o filme continua a ser campeão de bilheteria em workshops e palestras de motivação empresarial para multimilionários e pés-rapados com algumas contas a acertar com o destino (por motivos diversos, evidentemente) mais de década e meia depois de lançado, num já longínquo 2006. O mais intrigante é que a história contada por Muccino nada tem de original, talvez justamente porque inspirada na vida como ela é, feia, intransigente, dura, cruel, tanto pior se se atravessa um ciclo de pequenas tragédias pessoais que, claro, redundam em perda da capacidade laboral e em episódios de transtornos mentais de maior ou menor intensidade. Que atire a primeira pedra aquele não sofreu por apuros de dinheiro.