Romance com Meryl Streep, ganhador de 7 Oscars, está na Netflix e você não assistiu Divulgação / Universal Pictures

Romance com Meryl Streep, ganhador de 7 Oscars, está na Netflix e você não assistiu

A aristocrata que se nobilita por um casamento forjado e quer multiplicar sua riqueza numa fazenda da África descobre o sentimento de pertença a uma terra hostil e escravizada. E se identifica com a humanidade que lhe era coadjuvante.

Filme épico de transformação social e pessoal, “Entre Dois Amores” (Out of Africa, 1985), de Sydney Pollack, com Meryl Streep e Robert Redford, tem inspiração direta no clima e no ritmo dos clássicos da escola David Lean. Há o envolvimento conflituoso romântico de “Doutor Jivago”, a crueza de “Passagem para a Índia” e personagens inesquecíveis da fauna britânica entre os hábitos e a presença dos povos dominados.

Mas é uma obra original que seduz e devasta quem assiste. Vendo pela terceira vez, noto com mais clareza a presença de David Lean nesta obra de Sydney Pollack, lançada em 1985, vencedora de sete Oscar.

Três links explícitos com “Lawrence da Arábia”. A aparição de Omar Sharif no horizonte deixando os viajantes em pânico na expectativa tem o mesmo clima da aproximação assustadora dos guerreiros massai no comboio onde viaja Meryl Streep.

Na sequência dessa cena, quando ela chega de surpresa, toda detonada, no acampamento militar atraindo a atenção admirada de todos, pode ser comparada ao resgate que Lawrence faz do guerreiro Massim. Tanto o tenente inglês quanto a baronesa de Pollack, impõem a própria vontade para os incrédulos. A coragem pessoal é um ato de liberdade num mundo hierarquizado.

A visita de Meryl Streep no clube fechado masculino também pode ser comparada com a invasão de Peter O’Toole no aristocrático clube de oficiais ingleses. Ambos causam espanto e saem do ambiente prestigiados por sua ousadia.

Ha também um clímax de tragédia de “A Ponte do Rio Kwai” no grande incêndio da safra de café, um desfecho idêntico nas duas situações em que há destruição total logo depois do sucesso da empreitada.

Não são nem plágio nem citações, mas incorporação de soluções cinematográficas consolidadas, confirmando que todo filme é sobre cinema.  A África é só um detalhe. Poderia ser a Índia ou a Arábia. Mas é apenas a Sétima Arte no seu esplendor.


Filme: Entre Dois Amores
Direção: Sydney Pollack
Ano: 1985
Gênero: Drama/Romance
Nota: 9/10

Nei Duclós

Escritor e jornalista.