Décimo quarto (14º) livro lido, em 2023: “Asco”, do salvadorenho Horacio Castellanos Moya. Em poucas palavras: “A morte de minha mãe é a única razão que pode me obrigar a voltar a esta podridão, se ela não tivesse morrido, nunca teria voltado, jamais pensei que teria que voltar, dizia a mim mesmo que meu irmão ajeitaria tudo, venderia os pertences de minha mãe e depositaria a minha parte da herança na minha conta bancária em Montreal.”
De volta a El Salvador, para o enterro da mãe, depois de 18 anos exilado no Canadá, um professor de artes faz um relato visceral — em forma de monólogo —, a seu único amigo: um escritor que mora no país. Ao som de Tchaikovski e duas doses de uísque, no único bar que julga decente na cidade, Edgardo Vega destila comentários, no varejo e no atacado: da alienação da classe média à hipocrisia do sentimento pátrio, da gratuidade dos crimes dos países subdesenvolvidos à corrupção generalizada na política: “Os políticos fedem em todos os lugares, mas aqui, neste país, os políticos são especialmente fedorentos. Nunca vi políticos tão ignorantes, tão selvagemente ignorantes, tão evidentemente analfabetos como os desse país”.
Também não poupa a literatura e a cultura do país: “São mitos da província, para descobrir que são escritores regulares, medíocres, sem aptidão para o universal, sempre preocupados mais com ideologia do que com a literatura; não dá para se fazer de idiota, basta comparar com os países vizinhos para se dar conta de que os mitos locais são de segunda linha (…) Não conheço nenhuma cultura que, como esta, tenha levado a degradação do gosto a níveis tão baixos, não conheço nenhuma cultura que fez da degradação do gosto uma virtude”.
Emulando Thomas Bernhard, Horacio Castellanos Moya constrói, furiosamente, um mosaico de um país que poderia ser o Brasil, mas é El Salvador (mas com todas as semelhanças que remetem ao Brasil): “Nada que tenha a ver com o cultivo do espírito pode ser encontrado neste lugar, nada que tenha a ver com o desenvolvimento da inteligência, é incrível, nas paredes só há diplomas e fotos familiares estúpidas penduradas, e nas estantes, em vez de livros, só há esses enfeites imbecis que estão à venda em qualquer lojinha”.
Livro: Asco
Autor: Horacio Castellanos Moya
Tradução: Antônio Xerxenesky
Páginas: 111 páginas
Editora: Rocco
Nota: 10/10