Baseado em livro argentino, obra-prima da Netflix hipnotiza e não sai da cabeça Diego Araya / Netflix

Baseado em livro argentino, obra-prima da Netflix hipnotiza e não sai da cabeça

Belo, sombrio e confuso. Essa é a conclusão sobre “O Fio Invisível”, filme gravado no Chile e com direção da peruana Claudia Llosa, baseado no livro de Samanta Schweblin. O filme é conduzido por um diálogo entre Amanda (Maria Valverde) e Davi (Marcelo Michinaux). Embora seja essa conversa que não vemos, apenas ouvimos, que nos apresenta toda a história, não sabemos exatamente o que está acontecendo. Há um sentimento de desorientação aqui para o espectador. Vemos pequenos flashes de imagens que fazem parecer que Amanda está sendo arrastada por Davi, o filho estranho de sua vizinha, pelo bosque.

Mas vamos voltar do começo: Amanda chega à essa encantadora cidade rural no Chile com sua filha, Nina (Guillermina Sorribes Liotta), uma menininha de aparentemente 6 anos, sem a companhia do marido, que ficou em casa para trabalhar, mas prometeu chegar alguns dias depois. O lugar era um dos favoritos do pai de Amanda, que morreu quando ela tinha 13 anos. Na casa vizinha à que está hospedada, moram Carola (Dolores Fonzi) e o filho, Davi.

Quando Amanda e Nina chegam, Carola vai até sua casa carregando dois baldes. A água da torneira é imprópria para beber, avisa a vizinha que fez a gentileza de compartilhar um pouco de água potável. Aí começa a amizade entre as duas mulheres, que passam a se encontrar todos os dias e a compartilhar confissões.

Carola conta para Amanda que ela e o marido faliram após um cavalo, que haviam pegado emprestado para procriar com sua égua, morrer envenenado pela água da região. No dia em que o cavalo fugiu, Carola e Davi saíram para procurá-lo. Quando o encontraram no bosque, Davi também brincou com a água envenenada. Na mesma madrugada, o cavalo morreu e o menino ficou gravemente doente. Carola sabia que se o levasse ao pronto socorro, ele não sobreviveria. Então o levou para a Casa Verde, onde vive uma curandeira local. Após um ritual de “migração”, o espírito de Davi teria se espalhado, enquanto outro espírito tomou seu corpo. Assim, ele pôde sobreviver, contou Carola. No entanto, a partir deste dia, ele nunca mais foi o mesmo. Para ela, o filho se tornou um monstro.

Carola tem medo do menino e alimenta a fantasia (ou não) de que ele é perigoso e diabólico. Para Amanda, a história é absurda e Davi é apenas uma criança inocente. Com pena do menino por conta da rejeição de Carola, Amanda decide ser gentil com ele e deixá-lo ir até sua casa para brincar com Nina. Mas o menino é mesmo diferente. Sempre correndo como um animal selvagem e fazendo coisas estranhas, um dia ele se tranca dentro da casa com Nina e, no outro, aparece deitado, de madrugada, na cama de Amanda. Logo ela começa a acreditar na possibilidade de Davi ser mesmo mau. Suas decisões, a partir daí, a levam para seu destino final. O diálogo que ouvimos durante todo o filme com Davi.

Na conversa, Amanda cita o fio invisível, uma distância de resgate, que toda mãe tem com seu filho. Seria a distância segura para prevenir um acidente, uma tragédia ou para protegê-lo de um perigo. Um exemplo disso é quando Nina vai brincar na beira da piscina e Amanda a fica observando, esperando o momento-chave entre a autonomia da criança e o prazo que tem para salvá-la de se afogar, caso caia na água.

Este pensamento é o fio que guia toda a história. O enredo é sobre a relação de Carola com seu filho e o momento em que o ‘perdeu’. Também sobre a ligação entre Amanda e Nina. Mas não apenas isso, também é sobre espiritualidade, crenças populares e, impressionantemente, sobre como os agrotóxicos influenciam a vida, rotina e saúde de toda a cidade.


Filme: O Fio Invisível
Direção: Claudia Llosa
Ano: 2021
Gênero: Drama/Mistério
Nota: 9/10