Uma colher de Guimarães Rosa, uma pitada de Jorge Amado, alguns gramas de Carmo Bernardes, uma xícara de Gabriel García Márquez, mexa à vontade, solte a imaginação, deixe ao ponto, com muita poesia e inventividade. Assim nasceu, com preciosos e precisos toques autorais, “Expedição Abissal”, do jornalista Hélverton Baiano.
Misturar os autores citados, salvo armado de extrema habilidade com as palavras, poderia resultar num Frankenstein literário. Obviamente, não foi o caso, em se tratando de um autor experiente como Hélverton Baiano, que soube conduzir a sua narração com um magistral equilíbrio; da primeira até a última palavra do romance. E mais: sem escorregar em nenhum momento pelas estradas tortuosas das letras.
O autor, partindo de uma saga verídica, recriou uma saga onírica, absolutamente viciante, como nas melhores iguarias literárias. O leitor-comensal é convidado (melhor: é induzido) a se fartar de uma história fantástica, mas com os pés presos no nosso cerrado. Mais precisamente: no complexo de grutas da Serra Geral.
Aliás, não é fortuito, que a história se passe na fronteira entre Goiás e Bahia. Essa fronteira diz muito sobre a história do autor do romance. Nascido em Correntina (BA), migrou ainda adolescente para Goiânia (GO), onde se estabeleceu. Mas nunca abandonou suas origens, sua cultura. Daí porque, Hélverton é um baiano-goiano. Essa ancestralidade está explícita em “Expedição Abissal”.
O romance funciona, também, como amálgama cultural. Tem o tempero dessas terras, desses dois mundos siameses. E dessa mistura de saberes e sabores nasceu um manjar dos deuses. Quem duvidar, que leia (e devore) “Expedição Abissal”. O leitor, com certeza, vai se fartar da melhor iguaria das letras.
Por isso, afianço: não fosse a extrema habilidade do escritor, o resultado desse “prato-romance” poderia ser indigesto. O autor soube misturar bem os temperos. O resultado apurado é fruto de muitas vivências, de muitas leituras (de mundos). Ao fim da aventura, o baiano-goiano se revelou um mestre-cuca de primeira linha. Com isso, deixou a sua marca no universo “culinário-literário”. Venha, leitor, delicie-se, farte-se, desse banquete literário. Sem moderação.