Obra-prima, na Netflix, transforma espectador em personagem e o leva a um mundo brutal, agonizante e desesperador Divulgação / Roadside Attractions

Obra-prima, na Netflix, transforma espectador em personagem e o leva a um mundo brutal, agonizante e desesperador

No fim da década de 1960, a Irlanda do Norte enfrentava uma guerra civil entre protestantes, que defendiam a permanência do país ao Reino Unido, e católicos, que desejavam a reunificação com a Irlanda do Sul e sua independência. Com a explosão de atos terroristas a partir de 1968, por parte do Exército Republicado Irlandês (Ira), soldados britânicos foram enviados para Belfast para tentar controlar os conflitos políticos e religiosos.

Em meio à violência efervescente, entra a história de “71: Esquecido em Belfast”, filme de Yann Demange, que narra a terrível noite vivida pelo soldado Gary Hook (Jack O’Connell), depois que sua unidade é levada até uma rua da cidade para auxiliar em uma revista a uma residência. Com uma multidão católica descontrolada do lado de fora, um garoto consegue roubar um rifle do exército, cujos soldados haviam sido orientados a não usar capacetes e escudos, já que eles supostamente estariam apenas em meio a civis e a ação não seria arriscada. Quando dois dos recrutas, entre eles Hook, tentam recuperar a arma, são cercados por jovens integrantes do Ira, que começam a espanca-los. O jipe do exército parte para o quartel, os deixando para trás.

O outro soldado é baleado na cabeça, enquanto Hook, que foi esquecido em uma das ruas de Belfast, empreende uma fuga pelos becos e vielas da capital para sobreviver aos ataques de um núcleo mais jovem e rebelde do Ira. Durante sua jornada, conhece um garoto, cujo tio é um dos líderes do grupo paramilitar protestante e que o leva até um pub. Após a explosão de uma bomba, o soldado acaba ferido e é socorrido por um pai e uma filha católicos que o abriga em sua casa. Não demora para que membros do Ira descubram seu paradeiro e tentem destruí-lo. Aí é apenas uma questão de tempo para saber quem o encontrará primeiro, se os terroristas ou o exército.

Esse é o primeiro filme dirigido por Demange e foi gravado, em sua maior parte, no Norte da Inglaterra. Poucas palavras são usadas no filme, pois a maior parte das cenas, se trata da fuga de Hook, que está quase sempre sozinho ou usa poucas palavras para se comunicar. Muitas cenas foram gravadas em modo travelling, com a câmera na mão do operador, para dar a sensação de se estar vendo dos olhos de um participante, de alguém que está correndo atrás ou ao lado do protagonista, que cai e se levanta em meio aos tiros e explosões.

Bem-recepcionado pela crítica, o filme retrata de forma excepcional o olhar de um soldado perdido e desorientado nas linhas inimigas, lutando sozinho para sobreviver e com poucas chances de sucesso. “71: Esquecido em Belfast” mostra um fragmento do terror vivido pela população, obrigada a se posicionar para não morrer nas mãos de seus semelhantes.

Uma ação de tirar o fôlego e angustiar os espectadores, que acompanham a jornada de Hook se desvencilhando de seus algozes, pulando muros, se escondendo atrás de paredes, agachado em um banheiro desconhecido e encurralado em becos desconhecidos da cidade.


Filme: 71: Esquecido em Belfast
Direção: Yann Demange
Ano: 2014
Gênero: Guerra/Ação/Drama
Nota: 9/10