7 filmaços que acabaram de estrear na Netflix e vão te deixar sem fôlego

7 filmaços que acabaram de estrear na Netflix e vão te deixar sem fôlego

As luzes e sombras, reentrâncias e saliências, subidas e declives, toda a ambivalência que pode haver no espírito de cada um, livra-nos da perdição que nunca deixa de espreitar a natureza humana, mas lança-nos também a uma pletora de situações em que o cerco se fecha a ponto de assaltar-nos a nítida impressão, envolta em graus variados de certeza, de que habitamos um universo paralelo, lugar mágico, santo e diabólico, onde sucedem crimes de toda sorte, mocinhos e vilões trocam de roupa e de lugar sem nenhuma cerimônia e a vida reveste-se de uma aura desabridamente fantasiosa, tornando-se impossível apartar  o que tem valor e, portanto, deve ser guardado, daquilo que só pega por empréstimo o vigor do que se sustenta por si só e emula a força que jamais há de ter. Nesses momentos, somos então obrigados a criar novos jeitos de nos relacionar com o mundo — ou, por outra, com o que entendemos ser o mundo — que por seu turno se metamorfoseia mil vezes por segundo, progride e desanda sem que possamos fazer nada a respeito a não ser tentar uma adaptação qualquer, ou nutrir expectativas menos desvairadas sobre a vida e seus mistérios, processo que não raro degringola em obsessão, paranoia, frustrações, melancolia, tristeza, morte.

O desajuste fundamental do homem para com o meio que o rodeia, o existir, os outros homens vêm como um lembrete de que mecanismos de repressão nunca poderão ser dispensados da rotina do cidadão comum, que pensa ser capaz de se livrar dos obstáculos a sua felicidade subvertendo o quanto possível a dureza do real, o que, evidentemente, não consegue. Se o homem comum se dá conta de que não lhe compete se empenhar em mudanças tão profundas, indivíduos psiquicamente descompensados e propensos por sua constituição torta a aventuras extralegais que redundam em perigo, cadeia ou tragédia têm certeza de que a vida é o que eles querem, e esse é o limite entre o caos e o inferno. Todos os sete títulos que agrupamos na lista abaixo remetem, de uma forma ou de outra, a essa dicotomia fundamental do espírito do homem, e ainda conseguem figurar entre as grandes novidades na Netflix que, merecidamente, clamam por um instante do seu tempo. Queridinho de dez entre dez cinéfilos ao redor do mundo, o mexicano Alejandro González Iñarritu é um dos nomes que despontam na corrida maluca ao Oscar 2023 com “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”. Se El Negro brilha com a história de um jornalista exilado na própria vida, Rian Johnson reedita o estrondoso sucesso de “Entre Facas e Segredos” com “Glass Onion: Um Mistério Knives Out”, em que se aprofunda nos joguinhos, digamos, excêntricos de ricaços tão entediados quanto doidos. Acrescidos aos outros quatro, os três longas são mencionados pelos leitores da Bula como os grandes momentos do cinema na Netflix em 2022 e são todos lançamentos, à exceção de “Entre Facas e Segredos”, de 2019. Mantivemos o critério de sempre, em ordem alfabética e do mais novo para o de estreia mais recente, e contamos com seu retorno. Diga para nós qual o seu favorito e desde já um 2023 cheio de boas surpresas e mais excelentes filmes.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.