Um filme de Alessandro Genovesi, o divertido “7 Mulheres e um Crime” é uma espécie de mistério a la Agatha Christie com cenários e atuações teatrais e que gira em torno de uma família aristocrática, porém à beira da falência, na Itália dos anos 1930. Quando Susanna (Diana del Bufalo) retorna de Milão para o almoço de Natal, ela se depara na porta com a nova empregada da família, a bela e jovem Maria (Luisa Ranieri). Há uma estranha tensão no ar pela forma como elas se olham. É quase uma competição para ver quem manda no território, mas logo Susanna avista a matriarca Rachele (Ornella Vanoni) em sua cadeira de rodas na janela da sala e vai cumprimentá-la, dissipando a nuvem de tensão inicial.
Os minutos vão passando e as demais personagens na qual a trama se centraliza vão surgindo, com a entrada da mãe de Susanna, Margherita (Margherita Buy) na sala, a irmã Catarina (Beneditta Porcaroli) e a tia Agostina (Sabrina Impacciatore). A última a aparecer em cena é a misteriosa e sedutora Veronica (Micaela Ramazzotti), ex-amante do pai de Susanna, Marcelo (Luca Pastorelli), cujo cadáver é descoberto naquela manhã, em seu quarto, com uma faca afundada nas costas.
Não demora para que elas comecem a suspeitar umas das outras e a armar teorias conspiracionistas sobre as razões de cada uma para querer Marcelo morto. O defunto, quando vivo, era o centro da vida de todas, que disputavam sua atenção e seus cuidados. As motivações para seu assassinato vão desde uma rejeição amorosa ao testamento. Outros mistérios começam a surgir, como o fio do telefone cortado, assim como o cabo do motor do carro, que também foi partido no meio para que ninguém conseguisse sair da propriedade. Os remédios de Agostina somem de onde são normalmente guardados e vão parar debaixo da cama da irmã, Margherita. Os títulos da avó, Rachele, também desaparecem de debaixo de seu colchão e elas temem que um ladrão esteja dentro da casa e queira matá-las todas.
Em meio aos diálogos de acusações e suspeitas, as atuações exageradas e espirituosas das 7 mulheres tornam o crime uma situação cômica e divertida, proporcionando uma hora e vinte minutos de entretenimento para os espectadores. Os cenários, com cores fortes, paredes verdes, azuis e vermelhas e mobiliário colonial nos transportam para o início do século. Mas a iluminação propositalmente artificial, que projeta sombras e luzes nos cenários, constrói na frente do nosso sofá de casa um palco de teatro que nos faz ter a sensação de estar de frente para um espetáculo, ao vivo.
A cor dos figurinos também expressa muito sobre a personalidade de cada uma. Susanna e Maria usam azul, uma cor associada à melancolia e solidão nos cinemas. Elas possuem segredos que as isolam do resto do mundo e as fazem se sentir solitárias. Margherita usa vermelho escuro, uma cor normalmente associada nas telas à raiva e a violência. Ela e o marido não dormem mais no mesmo quarto e o casamento claramente não vai bem. Ela planeja ir embora depois das festas de final de ano e guarda mágoas do marido e de seus inúmeros casos extraconjugais. Ela teria fortes motivos para querer Marcelo morto. A ex-amante, Verônica, está de roxo. Ela é uma figura mística e misteriosa. Sua expressão é sempre blasé e, em algumas vezes, quase de prazer, mesmo diante da tragédia. Já Catarina e a tia, Agostina, estão de verde, que simboliza uma certa ingenuidade e um ar sonhador.
No fim das contas, a lição é pronunciada pela matriarca: “As mulheres devem permanecer sempre unidas”. Ela é questionada pela neta: “Mesmo quando um homem pede por ajuda?”, então a afirmativa da avó é novamente repetida. “7 Mulheres e um Crime” tem uma energia burlesca, radiante e barroca e todas as suas personagens são figuras interessantes e multifacetadas. O filme é simplesmente uma delícia de se assistir.
Filme: 7 Mulheres e um Crime
Direção: Alessandro Genovesi
Ano: 2021
Gênero: Mistério/Comédia
Nota: 9/10