Filme com Dakota Johnson, na Netflix, vai te proporcionar duas horas de relaxamento e felicidade Glen Wilson / Focus Features

Filme com Dakota Johnson, na Netflix, vai te proporcionar duas horas de relaxamento e felicidade

Todos gostam de música. Quer dizer, a maioria das pessoas gostam de escutar música. A música é algo que se exprime da alma, seja alegria ou tristeza, ela traz para o mundo de fora coisas que jamais saberíamos como dizer, que existem apenas na dimensão das emoções e das ideias, mas que conseguem ser expressadas graças a um conjunto de palavras embaladas por harmonias, combinações de acordes e ritmo. Mas criar é diferente de apreciar música. Para criá-la, é preciso um tipo diferente de inteligência, um conhecimento quase matemático que equaciona pontinhos desenhados em uma partitura e os transformam em uma expressão artística e espiritual. Músicos são como pequenos deuses pirados, que fazem milagres com palavras, cordas, sinos e caixas. Os criadores mudam o mundo dos apreciadores. Tornam ele um lugar mais tolerável e menos angustiante.

Mas, às vezes, esses deuses podem se tornar vaidosos e arrogantes. Toda atenção pode fazê-los pensar que são o Sol. Mas eles não são o Sol, embora brilhem. Eles são as estrelas. Eles fazem mágica, mas não fazem toda a galáxia funcionar. As estrelas podem passar despercebidas se não há ninguém olhando para elas. Em “A Batida Perfeita”, da cineasta canadense Nisha Ganatra, Tracee Ellis Ross, a filha de Diana Ross, interpreta a cantora Grace Davis, uma estrela que já brilhou muito, mas está viciada pelo mercado. Seu agente está cansado de ir atrás de grandes shows e quer um pouco de estabilidade e segurança. Grace está compondo e quer gravar um disco novo, mas isso representa riscos, afinal, ela não estará ganhando dinheiro com shows e não há garantias de que o álbum irá vender. O agente, Jack Robertson (Ice Cube), propõe desistir da gravação e fechar shows fixos em Las Vegas, uma espécie de pré-aposentadoria para Grace Davis, que já atingiu a meia-idade.

Do outro lado, há a assistente pessoal de Grace, Maggie (Dakota Johnson), que sonha em ser produtora musical profissional e vai contra o pensamento de Robertson de forçar Grace a desistir de manter sua carreira e lançar novas faixas. Mas Grace é uma espécie de Miranda Priestly de “O Diabo Veste Prada”. Na maior parte das vezes, ela pensa que é o Sol e trata Maggie de forma depreciativa, maldosa e abusiva, mas a assistente está feliz de poder acompanhar de perto a carreira de uma das cantoras que ela mais admira. Em seu tempo, Maggie secretamente produz o disco ao vivo de Grace. Suas horas de descanso praticamente são inexistentes, principalmente depois que ela conhece o jovem músico David Cliff (Kelvin Harrison Jr) no mercado e se oferece para produzi-lo. O dia de Maggie fica completamente dividido entre seu trabalho de assistente e de produtora, até que em um momento a sobrecarga acaba atrapalhando as duas coisas e seu mundo implode.

Tracee Ellis Ross tem uma presença marcante e dominadora, o que destaca ainda mais o papel de sua personagem. Ela poderia ser apenas uma coadjuvante de uma comédia romântica carregada por Dakota Johnson, mas ela é uma força poderosa o bastante para tomar para si boa parte do filme. Já Johnson é um tipo diferente de força, ela é leve, sutil, delicada e calorosa, dando ao longa-metragem uma sensação térmica mais amena, fazendo o espectador se sentir mais confortável e à vontade para dar umas risadas e aproveitar as cenas de música e romance. Já Kelvin Harrison Jr é puro charme, carisma e sensualidade, mesmo quando interpreta um músico inseguro, tímido e meio atrapalhado. Para completar o time de celebridades, está Bill Pullman em uma aparição afável e com ares de oráculo, fazendo uma participação especial como pai de Maggie.

“A Batida Perfeita” é a uma combinação aconchegante de cinema e música. Uma comédia romântica adocicada e agradável que vai te fazer liberar alguns miligramas de serotonina na corrente sanguínea e vai te proporcional duas horas de relaxamento e diversão. Um filme para ver sozinho ou acompanhado, essa produção vai muito bem com um chocolate quente e um cobertorzinho sobre o sofá.


Filme: A Batida Perfeita
Direção: Nisha Ganatra
Ano: 2020
Gênero: Comédia / Romance / Musical
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.