Para se escrever um best-seller será preciso abordar três temáticas básicas para conquistar o respeitável público leitor, a partir de um título criativo e instigante, que capture de imediato a atenção do consumidor, que irá adquirir a sua obra-prima, sem qualquer espécie de hesitação ou questionamento. Como, por exemplo, destacam-se: “Ame e Dê Vexame”; “Como se Tornar um Milionário”; Quem Roubou o Meu Queijo” etc. Por este raciocínio, sugiro que o autor se esmere na concepção do título da livro, que vem a ser o cartão de visita do que será consumido pelo Leitor/Cliente, de modo a se atingir o topo do ranking de comercialização do mercado livresco.
Até pouco tempo, o negócio editorial publicava biografias que ditassem as regras básicas de como se tornar exitoso empreendedor de sucesso, utilizando-se como exemplificação a origem humilde do protagonista, com voz narrativa em terceira pessoa, geralmente assoprada por um jornalista de tecla hábil e persuasiva. Nos tempos contemporâneos, aconselho que se substitua os timbres jornalísticos do habilidoso profissional de imprensa, pelo narrador em primeira pessoa, o que se caracterizará por autoficção. A meu ver, a denominada autoficção — indico a leitura da obra literária “De Amor e Trevas”, de Amós Oz —, se transformará em objeto de consumo de uma sociedade ávida de ascensão social e pecuniária. Em diálogo com o convidativo título e uma excelente história a ser lida, o autor do best-seller necessitará de uma insinuante jogada de marketing, para impulsionar a venda do livro, de sorte que o enriqueça; e, muito principalmente, o editor, desde que os leitores não permaneçam ainda mais ignorantes (e empobrecidos!) ao investirem tempo e dinheiro em subliteratura de autoajuda.
Em outra perspectiva autoral, recomenda-se a perspectiva temática de obras literárias, que abordem as peripécias de feiticeiras, magos, gnomos, fadas e duendes, a fim de que se seduzisse o público consumidor, ávido por esvaziar as prateleiras repletas de esoterismos e espiritualidade. Eis o estrondoso êxito comercial do espólio do bruxo carioca Paulo Coelho e da saga de Harry Porter, cujo sucesso fez uma escritora até então endividada obter patrimônio mais significativo do que o da rainha da Inglaterra, Elizabeth II. Em terceiro plano, caso não haja talento para autoficção ou esoterismo, peço que aposte todas as fichas do jogo ficcional nos registros que abranjam os conflitos étnicos e de gênero. Isto para preencher o espaço da imaginação por intermédio de abordagens que restituíssem ao Leitor o equivalente ao caráter identitário de grande parte da população brasileira.
Em tempos pós-modernos, para emplacar um legítimo campeão de vendas desconfio de que não seja necessário exigir que se escreva obrigatoriamente enredos que se passem na Cisjordânia ou Egito, uma vez que a periferia tupiniquim ou mesmo a ambiência amazônica pode muito suprir o espaço da narrativa. Destarte, há de ser proveitoso retratar a saga de uma personagem negra transgênero, oriunda das comunidades populares das grandes metrópoles do país ou das tribos indígenas aculturadas em precárias condições de sobrevivência, ameaçadas por missionários, garimpeiros e traficantes de drogas. Decerto, a construção das narrativas de cunho ecológico e/ou de gênero despertará a cobiça das grandes editoras multinacionais ritmadas pela pós-modernidade. Deste modo, sugiro que se escreva uma obra de ficção que retrate a amplitude do interesse da sociedade, baseada em nichos temáticos que impulsionem a conta bancária do autor de best-seller original e, sobretudo, rentável.
Entretanto, se, de fato e direitos autorais, existisse receita de bolo para composição dum livro de sucesso, confesso que não daria a fórmula mágica ao atento Leitor desta crônica, à procura de informações úteis para escritura de sucesso comercial. Isto porque este escriba, caso descobrisse os códigos do algoritmo da prosperidade literária, decerto, guardaria, a sete chaves d’ouro, o segredo de se escrever um best-seller…