Dia 8 de dezembro de 2022 completaram-se 42 anos desde a morte de John Lennon. Como todo mundo já sabe, foi trucidado a tiros, pelas costas, por um filho-de-uma-pu…, ou melhor, por um sujeito desmiolado chamado Mark Chapman. A emboscada aconteceu na entrada do Edifício Dakota, em Nova York, onde John, aos 40 anos de idade, residia com Yoko Ono, a esposa japonesa tão fustigada pelos fãs que a consideravam, injustamente, pivô da separação dos Beatles. Todo mundo sabe que o que separou os garotos foi a genialidade.
Era dezembro de 1980. Véspera de Natal. Chapman acabou detido, processado e sentenciado à prisão perpétua. Ao longo de todo esse tempo, ele já teve alguns pedidos de liberdade negados pela justiça americana. Pelo andar da carruagem, vai permanecer em cana até os derradeiros estertores de vida. Na maioria dos estados norte-americanos, a legislação é dura contra os que matam. Imaginem se a história tivesse sucedido no Brasil.
O processo judicial contra Chapman durou dois meses. Se fosse aqui, em território brasileiro, poderia levar anos, tamanha a possibilidade de recursos judiciais e a morosidade do poder judiciário. Por ser um réu primário, o criminoso pegaria cana por, no máximo de 30 anos, que me parece um tempo bastante razoável para quem mata outro ser humano de forma deliberada. Ao ser colocado numa cela com “c” e mais quarenta presidiários, se sobrevivesse à marmita, à diarreia e à tunda dos colegas, se apresentasse comportamento exemplar, se costurasse bolas de futebol todo santo dia, fatalmente, seria beneficiado com a progressão da pena, cumprindo irrisórios 1/6 da sentença — uma merreca, convenhamos — passando a usufruir de liberdade condicional pelo regime semiaberto. Partindo desses pressupostos, na pior das hipóteses, o facínora já estaria zanzando pelas praias cariocas há pelo menos 35 anos. Uma mamata, confere?
Mais livre e desimpedido do que os testículos de um jovem yanomami, Mark poderia publicar aquele livro que escreveu na cadeia, explicando o inexplicável, ou seja, por que, caralhos, matou John Lennon. Então, venderia, numa noite, mais livros do que eu vendi na porra da minha vida inteira, tornando-se um best-seller, uma verdadeira celebridade. Afinal de contas, não é todo dia que alguém mata um beatle e vende mais de mil livros numa só edição. Então, receberia cartas de fãs apaixonadas e estaria apto para se casar com uma mulher linda, uma modelo siliconada, decadente, que tinha feito uma ponta como balconista na novela das 7.
Tocado por um sopro divino, Mark poderia se dar bem ao investir no mercado da fé, tornando-se um pastor elegante, carismático, limpinho, que venderia edições luxuosas da Bíblia, no cartão de crédito, parcelado em 12 vezes, sem juros. Vejam só que baita negócio. Daí por diante, endinheirado às tufas, poderia fazer uma parceria com o pessoal do crime organizado, filiar-se a um partido de aluguel e se candidatar a deputado, tornando-se o candidato mais votado em todos os tempos, desde Jesus Cristo. Marketing não é milagre. Milagre é ressuscitar a reputação de um assassino, não ao terceiro dia, mas, já no primeiro turno. “Vote em Chapman, o patriota que livrou o Brasil da ameaça comunista.” Sim. Eu não sei se vocês sabiam, mas, John Lennon era, sim, bissexual, comunista, drogado e tinha um pacto com Bob Jeff, ou melhor, um pacto com o demônio.
Não. Não estou tentando ser engraçado. Aliás, o meu forte é escrever sobre desgraças, tipo um Datena que não emplaca na literatura. Não sei por que cargas d’água descambei para a pilhéria ao me desvirtuar e escrever sobre o sujeito que matou John Lennon. Quem sabe, foi um sopro do Divino, o agiota para quem devo mais do que favores. A intenção era prestar um tributo a John Lennon, mas, as palavras escapuliram da coleira e acabei deixando a coisa toda sangrar. Acontece com todo mundo, em especial, com os piores escritores.
Prisão perpétua parece tempo demais para qualquer ser humano, desde que ele não seja um assassino em série, um psicopata ou um maldito comunista. Não sei por que essa birra toda dos brasileiros com os comunas, mas, vamos lá: eles parecem tão domesticáveis quanto os cristãos e os patriotas. Enfim, talvez, a justiça americana devesse rever os apelos dos advogados e conceder a tão almejada liberdade ao assassino de John Lennon, antes que ele bata com as quatro. Ninguém no tribunal perguntou a minha opinião, mas, ainda assim, acho que o tempo e a história já o puniram o suficiente. Da cadeia, pode ser que, um dia, ele se safe. Da memória dos fãs de John Lennon, acredito que nunca vai se libertar, mesmo que morasse no Brasil, constituísse uma trinca de advogados remunerados ao preço de bistecas banhadas em ouro e fosse beneficiado por um recurso bem-sucedido no STF. Vocês podem dizer que eu sou um sonhador, mas, eu não sou besta.