Para se tornar Leitor de ficção há de se abrir o livro e lê-lo, corajosamente, sem receio de não se compreender mensagem e/ou vocabulário da obra literária. Por meio de prévio conhecimento das diretrizes dos elementos básicos da narração — narrador / enredo / espaço / tempo / personagens —, com a perspicácia de quem trafega por sobre um pântano de areia movediça, com múltiplas vozes subterrâneas por sobre sofisticados estratagemas, o Leitor precisará percorrer o espaço da narrativa, com o cuidado que se deve ter com uma arte denominada Literatura, habituada a se utilizar dos subterfúgios dos símbolos, apólogos, parábolas, fábulas, signos, alegorias, lendas, mitos e afins.
Daí a importância vital da habilitação humana pelo ato de escrita literária em prosa de ficção, que o impelirá a uma formação intelectual forjada a partir da cronologia do roteiro, a se iniciar pela análise do narrador, que lhe contará a história a ser lida. Ao identificar a(s) voz(es) narrativa(s) em primeira ou terceira pessoa, o Leitor há de preparar o espírito para o enfrentamento ficcional do enredo (história), com o auxílio da apresentação do espaço narrativo (lugar onde se passa a história); do tempo (época em que se passa a história); e personagens (protagonista(s), antagonista(s) e figuras secundárias da composição da escritura). Ao lidar com a invenção do enigma literário de modo a adestrar a sua imaginação, por sobre fórmulas e métodos da exegese, o ato de Leitura irá propor um diálogo significativo com os padrões da tradição fincada pela pena de um escriba pela memória do tempo, a que chamamos contextualidade.
Creio que, ao atentar para os elementos fundamentais da narração já roteirizados nos parágrafos introdutórios, quiçá, seja necessário observar que, da mesma argila de que se fez Adão e da costela da qual se idealizou Eva, o Leitor em formação não deve perder de vista que o autor se prestará a se forjar em Deus, à imagem e semelhança da criação das criaturas fictícias, por onisciência cunhada em formão de artesanato verbal. Logo, não há de ser recomendável cruzar os mares nunca dantes navegados descritos por Camões, sem manual de cabotagem. Cabe, ainda, explicitar que por ser a Literatura uma dama caprichosa e promíscua, que, embora se incline a tantos outros amantes-leitores que com ela se deitam em palácios ou alcovas, há de cobrar atenção de exclusividade daquele que se arvora a (tê)lê-la.
Desta feita, pode-se até imaginar o desígnio de se incitar a discussão em torno da metodologia mais eficaz de se constituir um genuíno Leitor, de maneira que seja detentor das devidas habilitações hermenêuticas, ao intento que se pretende aprimorar a arte do diálogo nos registros literários. Com humildade e modéstia, que o Leitor se aproxime da ilustração propositada por paisagens palpáveis e dos ruídos e sombras do intradiscurso, pois que, para além do domínio dos fundamentos basilares da narração, há de ser cogente, no instante categórico da decifração dos códigos da arte literária, dominar aspectos das entrelinhas nas produções ficcionais.
Assim sendo, tornar-se-á imprescindível a informação de que, após o conhecimento dos elementos da narração (narrador, enredo, espaço, tempo e características físicas e psicológicas das personagens); e da importância do entrediscurso (entrelinhas), o Leitor estará apto a desbravar o mistério ímpar da Literatura, a fim de que o faça um ser digno por sobre a escritura em disfarces de encant’Ação.