Filme argentino acaba de estrear na Netflix vale mais do que uma vida inteira lendo autoajuda Martin Kraut / Netflix

Filme argentino acaba de estrear na Netflix vale mais do que uma vida inteira lendo autoajuda

Na nova comédia romântica argentina de Sebastián De Caro, Luisana Lopilato e Juan Minujín interpretam o casal Belén e Fred, que se apaixonam após ele arrancar a porta do carro dela no trânsito. O filme, então, dá um salto para mais de uma década depois, quando os dois já têm uma filha adolescente e um menino. Casamentos se desgastam com o passar do tempo, mas no caso de Belén e Fred, os problemas já estavam prenunciados desde o começo da relação, já que nos primeiros minutos da produção, Fred dá sinais de ser um homem irresponsável, avoado e despreocupado com o que é realmente importante. Mesmo assim, Belén o dá uma chance, não é mesmo? Afinal, não faltam esperanças de que se possa ajudar o companheiro a desenvolver o melhor de si. O que esquecemos, especialmente quando estamos apaixonados, é que não somos responsáveis pela cura do outro.

É fácil acreditar no conto de fadas, no “felizes para sempre”. Muita gente quer encontrar o amor, porque acredita que com ele virá a realização de uma vida, a solução para todos os problemas. As pessoas acreditam que o amor supera tudo e que, com ele, é mais fácil ultrapassar as adversidades. Mas não é bem assim. O amor pode, inclusive, complicar ainda mais as coisas. Não há nada mais problemático que conviver diariamente com uma pessoa completamente diferente, criada com hábitos e uma cultura familiar totalmente contrária da sua.

No caso de Belén e Fred, eles estão casados há muitos anos. Então, já aprenderam a conviver com suas diferenças. O problema deles é, na realidade, o comodismo da relação. Quando você já está tão acostumado com o companheiro, que nada mais o incomoda. Inclusive, quando ele não lhe oferece mais a paixão, devoção e o esforço mínimo necessários para sustentar um romance. O fervor da paixão de Belén e Fred esfriou, apesar de conviverem bem. Após um encontro com um casal de amigos que mudou da água para o vinho, e que de muitas brigas passaram à lua-de-mel, eles são aconselhados a procurar uma empresa que promete curar todos os impasses conjugais.

Chamada Equilibrium, a agência se compromete a trocar cada ação positiva e altruísta de Belén para Fred, e vice-versa, em milhas. Essas milhas são recompensas que poderão ser usadas em viagens, esportes, lazer, restaurantes, qualquer coisa. Cada um deles recebe um smart watch, que passa a contabilizar esses pontos. Atraídos pela ideia de que o programa irá recuperar a paixão perdida, Belén e Fred decidem aderir. Mas eles não estão apenas interessados em esquentar a relação, mas também na recompensa das milhas. Fred e dois amigos que treinam gastronomia de forma autônoma se inscrevem em um concurso em Cancún e são selecionados. Com as milhas, ele pretende pagar pela viagem. Já Belén quer dar um tempo da pressão e sobrecarga de sua vida de empresária, esposa e mãe para buscar inspiração na Índia. Os dois iniciam uma espécie de “corrida maluca” para garantir suas milhas, mesmo que isso signifique trapacear e prejudicar o outro.

O roteiro é previsível, mas vale a diversão. O público já sabe, claro, desde o começo que isso não tem como dar certo. A disputa só irá atenuar os problemas conjugais, expor seus egoísmos e deixá-los ainda mais automesmados e menos conectados um ao outro. No fim, aprendem sua lição. Relacionamentos não sobrevivem ao egocentrismo. Em busca de se abastecerem de milhas, Belén e Fred se esquecem do mais importante: a felicidade só é real quando compartilhada. Mas será que o casamento vai resistir a esta dura lição?

Uma comédia que vale mais que livro de autoajuda, “Matrimilhas” é uma diversão para assistir com o companheiro e também uma chance de olhar para a própria relação como se olha em um espelho. Uma oportunidade de comparação e autoanálise.


Título: Matrimilhas
Direção: Sebastián De Caro
Ano: 2022
Gênero: Comédia
Nota: 8/10