Os 10 melhores romances brasileiros de 2022

Os 10 melhores romances brasileiros de 2022

Martin Heidegger (1889-1976), um dos pensadores mais completos — e complexos — da história, defendia a necessidade do recomeço como uma das questões centrais da vida. Entre outros pontos, é fulcral no pensamento de Heidegger a valorização das muitas descobertas que o homem faz no decorrer de uma vida que sempre lhe parece demasiado curta (e o é mesmo), mas decerto ganha outras cores, um viço inesperado, uma força qualquer poderosa o bastante para fazê-la desviar do precipício ao passo que nos instiga a recorrentemente testar limites novos, como se mais do que oxigênio, água e pão, tivéssemos de nos suprir primeiro de uma boa matula de acaso. A irrequietude do homem frente ao passar do tempo — incansável, inclemente, cruel — e sua cornucópia de mistérios cuja solução é meramente ilusória, dá ao gênero humano das poucas certezas que se consegue garimpar desse campo lodoso e edênico que é a vida: jamais se deve deixar passar uma boa oportunidade.

Poucas ideias remontam à imagem de aproveitamento do mundo, deste e mesmo de algum outro, em que passam a habitar — agora encantados, como diria Guimarães Rosa — aquelas mulheres e homens raros que ocuparam lugar de destaque na Terra, que uma narrativa de linguagem escorreita, plena de líricas alegorias, sobre a vida e, tanto mais, sobre o pós-vida de dois orgulhos que a brisa do Brasil não mais balança, e muito menos beija. “A Vida Futura” (Companhia das Letras) do jornalista Sérgio Rodrigues, tem a pretensão de interromper o sono eterno de ninguém menos que Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) e José Martiniano de Alencar (1829-1877), dois dos grandes conhecedores do vernáculo deste chão descoberto por Cabral, além, por evidente, de contadores de histórias de talento incomparável. Em “A Vida Futura”, Rodrigues compõe uma análise bem a seu estilo, acerba, contundente, precisa, sobre o “novo português” que se passou a falar no Brasil desde que vieram à baila pautas urgentes e justas como o tratamento mais digno a pessoas não binárias, aquelas que não se identificam como de um gênero em específico. Filólogo amador (e dos bons), o autor chama a atenção para o problema da tal linguagem neutra, perigosa justamente por reforçar preconceitos.

“A Vida Futura” e outras nove publicações brasileiras, todas lançadas neste buliçoso 2022, constam, claro, da nossa lista dos melhores do ano, já um clássico aqui da Bula. Para que se chegasse a ela, nos orientamos pelas respostas à newsletter enviado aos leitores por e-mail, bem como pelas interações dos leitores em nossos perfis no Facebook e no Twitter. Os textos das sinopses foram fornecidos pelas respectivas editoras.

Ainda dá tempo de colocar a leitura em dia e convocar esses dez artilheiros para aquele dérbi de milhões. Complete o time, não sufoque mais o grito na garganta e saia para o abraço nesse campeonato onde todo mundo ganha!

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.