Novo romance da Netflix é uma terapia de relaxamento e te ensinará sobre paciência, perseverança e esperança Divulgação / Netflix

Novo romance da Netflix é uma terapia de relaxamento e te ensinará sobre paciência, perseverança e esperança

O amor é um desafio sem fim, sentimento que se realiza em si mesmo, que principia e se conclui em torno de seu próprio eixo para reestruturar-se pouco depois, que se alimenta de suas próprias ilusões e se desenvolve baseado numa fundação de constatações nada românticas sobre ser preciso que o homem vá ao mais fundo de sua alma, a fim de absorver o mundo como ele mesmo o entende e, destarte, possa ter algum domínio de sua jornada, comporte-se de uma maneira mais ordeira, tenha o condão de calcular reações minimamente racionais às frustrações que decerto hão de vir. Essa disciplina, essa necessidade de subjugar sua composição selvagem é por si só um combate inglório a que se lança com algum sacrifício, consciente de que pode ser vergonhosamente derrotado, uma vez que somos todos impelidos, por mais resistência que possamos oferecer, a reproduzir o padrão da natureza ela mesma, ambiente pouco favorável a relações amenas o suficiente para que a mais humana das emoções floresça em sua inestimável plenitude.

Não é de todo errado afirmar que qualquer sociedade tem o amor por princípio, já que cidadãos precisam sentir-se acolhidos junto à terra em que nasceram ou passaram a viver, conceito imediatamente análogo ao amor. Todavia, tão inexato é o amor que estranhas substâncias apossam-se da verdadeira constituição do amor e o transfiguram num outro material, muito mais dinâmico, capaz de resistir a pressões nunca antes testadas, mas em nada sequer parecidas com a nobreza delicada do componente mais primitivo e mais procurado do espírito de cada indivíduo, em qualquer tempo. Brincando com essas noções de amor, tempo e as imperfeições de um e outro — mormente quando vistos sob o mesmo ângulo —, o tailandês “Love Destiny: The Movie” é como um mosaico colorido, em que cada peça, por insignificante que pareça, faz a diferença no que se vê depois de tudo reunido num todo só. Adisorn Tresirikasem junta cada um dos incontáveis elementos dessa história de modo a levar o espectador numa viagem por épocas já tragadas pela bruma do passar dos anos, mas que voltam por causa de um amor que se recusa ao fim.

Baseado na telenovela “Buphaphonniwat” (2018), da tailandesa Chanyawee Sompreeda, mais conhecida como Romphaeng, o roteiro de Tresirikasem e mais três colaboradores gira em torno de um argumento assumidamente fantasioso, mas que não demora a cair nas graças de quem assiste — talvez justamente por isso. A venda de uma pistola mágica (!) acaba transportando os personagens ao reino de Rattanakosin, no século 18, como se para adverti-los a não conspurcar o passado. Esse êxodo da pós-modernidade para uma era destacadamente arcaica, em que as pessoas eram muito mais extensões de suas famílias e seus povos que propriamente indivíduos, serve para cruzar os caminhos de Bhop e Gaysorn, o casal de protagonistas vividos por Thanavat Vatthanaputi e Ranee Campen. A partir desse inusitado encontro, o diretor conduz o enredo de modo a ressaltar as diferenças de temperamento entre os dois, sempre, deixando margem, por óbvio, para o final feliz que se espera de uma autêntica comédia romântica — tanto mais se nascida de uma novela de televisão.

Definitivamente, o filme não é para todos, nem faz a menor questão de o ser. As inserções musicais, com pequenos trechos bem arranjados nos momentos de tensão entre Bhop e Gaysorn, cansam um pouco, mas Tresirikasem demonstra capricho nas reconstituições históricas de prédios antigos, como o pagode onde os dois se conhecem. O desfecho é aquilo que todos já sabemos desde o início, sem grandes surpresas ou expectativas. Uma terapia de incontestável relaxamento estético.


Filme: Love Destiny: The Movie
Direção: Adisorn Tresirikasem
Ano: 2022
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 7/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.