O boom da literatura latino-americana deve muito a uma mulher, a superagente literária espanhola Carmen Balcells y Segalà (1930-2015). Com seu decisivo apoio, o colombiano Gabriel García Márquez (“Cem Anos de Solidão”) e o peruano Mario Vargas Llosa (“A Cidade e os Cachorros”), entre outros, conquistaram a Europa e, em seguida, o mundo — tanto que receberam o Prêmio Nobel de Literatura. Era tão diplomática que conseguia ser amiga dos dois inimigos figadais.
Sua história extraordinária, levando a América Latina a “descobrir” — ou “invadir” — a Europa, não apenas a Espanha, é contada na biografa “Carmen Balcells — Traficante de Palavras” (Debate, 512 páginas), de Carme Riera. No site da Livraria Casa del Libro, da Espanha, a obra é apresentada como “a primeira biografia autorizada” da agente literária. A sinopse assinala: “Carmen Balcells foi muito mais que uma agente, foi um mito. Uma combinação afortunada de talento, inteligência e ambição a converteu numa referência internacional da literatura em língua espanhola. Para escrever sua biografia, Carme Riera, que lidou com ela por quase quarenta anos, teve acesso ao arquivo da agência e entrevistou familiares, amigos, autores, editores e agentes. O resultado é um brilhante retrato de uma figura querida e temida, poderosa e polêmica, que reuniu um catálogo assombroso de autores e ocupa um lugar essencial na cultura hispânica nos últimos 70 anos”.
O site da Casa del Libro recolhe comentários a respeito de Balcells. “O legado de Balcells não é menos importante que o deixado por um grande escritor, pintor ou músico”, afirma Mario Vargas Llosa, um dos principais beneficiados pelos préstimos eficientes da agente. “Carmen Balcells é um imperador romano”, declara Gonzalo Suçrez.
Não li a biografia escrita por Carme Riera e, desde já, assumo que não apreciei a ideia de “biografia autorizada”. Espera-se que não seja uma hagiografia. O livro “Aquellos Años del Boom — García Márquez, Vargas Llosa y el Grupo de Amigos Que Cambió Todo” (Debate, 559 páginas), do jornalista e escritor espanhol Xavi Ayén, é, em larga medida, um livro sobre Carmen Balcells — e, claro, sobre dezenas de escritores, cujas portas do mercado e dos leitores foram abertas pela infatigável Balcells. Há um capítulo, muito bom, exclusivamente sobre a agente literária. É a base do texto a seguir.
Advogado brasileiro foi o primeiro cliente?
Carmen Balcells y Sagalà nasceu em 9 de agosto de 1930, na aldeia leridana de Santa Fe de la Segarra. Sua família era proprietária de terra e gado. O gosto pela cultura herdou da mãe, que tocava piano e falava francês. Quando tinha 20 anos, a família faliu. “Desde então, ganhar a vida por si mesma passou a ser uma obsessão.”
Conhecer o catalão Joaquim Sabrià, da Editora Miracle, mudou a vida de Balcells. Os dois se encontraram na sede da Editora Orbis. “Eu acompanhava um cliente meu, um advogado brasileiro — amigo do secretário do grêmio onde eu trabalhava — que queria editar alguns livros em português”, revela a agente literária. Os livros seriam publicados pela Orbis. “Ficaram horrorosos, tinham ao menos um erro de ortografia por página.” O nome do brasileiro misterioso, infelizmente, não é mencionado.
Dias depois, Sabrià chama a jovem de 26 anos e diz: “Tenho um trabalho para você, Carmen: agente literária”. Ela pergunta: “E o que é isto?”
Em 1956, Balcells trabalha como secretária e, “nas horas livres”, “como delegada em Barcelona da agência literária A. C. R. R., com sede em Madri e propriedade do escritor romeno Vintila Horia, de extrema direita.
Ao ganhar o Goncourt pelo romance “Dieu Est Né en Exil”, Vintila Horia muda-se para Paris e tenta vender a agência para Balcells, que não tinha dinheiro suficiente para adquiri-la.
Dados seus contatos no mundo editorial, Barcells decide montar sua própria agência e, em seguida, se torna sócia de Yvonne Hortet, mulher do editor Carlos Barral. Nos primeiros documentos, assina-se assim: ‘Carmen Balcells, agência literária”.
Em 1962, casa-se com o engenheiro Luis Palomares. Na época, “ninguém dava um centavo pela agência”.
Porém, nesse mesmo ano, passa a representar García Márquez e Vargas Llosa, que, escreve Xavi Ayén, “em pouco tempo, irão se converter em suas principais fontes de renda”.
“Tudo começou modestamente. Em 1960, [a agência] se limitava a articular as traduções no exterior dos autores de Carlos Barral”, dono da Editora Seix Barral, anota Xavi Ayén. “Meu primeiro autor de língua espanhola foi Luis Goytisolo”, declarou Balcells ao pesquisador. Ela assumiu a representação do escritor em 1958. “Foi Yvonne Barral quem me aconselhou a contratar Balcells como agente”, conta o escritor. Como ela começou a interferir na sua vida pessoal, ele deixou a agência, em 1994.
Quando Barcells pediu a Carlos Barral para representar seus autores, o editor disse: “De acordo, mas com uma condição: que minha Yvonne trabalhe contigo”. Então as duas se tornaram sócias.
O braço direito de Carlos Barral, Jaime Salinas, relatou “que a causa da independência de Balcells foi que o editor não cumpriu com sua palavra de outorgar-lhe o comando dos direitos da editora”.
Carlos Barral parece ter subestimado a capacidade de Balcells de representar os escritores com o máximo de firmeza e conhecimento. Antes da agente, ele tinha controle praticamente total dos autores. Depois da agente, eles se tornaram mais exigentes.
Balcells disse ao editor: “Carlos, os contratos são desvantajosos para os escritores”. Por isso, acrescentou, “só ficarão com você aqueles autores que não vendem, e os que vendem, como Vargas Llosa, Manuel Puig, etc., todos acabarão nas mãos de outro agente, que não serei eu, porque todos veem a mim como sua agente. Creio que faria um grande negócio, um gesto muito elegante e emblemático, renunciando a esses direitos, antecipando-se aos tempos, para cedê-los aos autores. Com isso, todos vão ficar com você”.
Ante o ceticismo do editor da Seix Barral, Balcells disse: “Carlos, todos sabem somar”. Ele acabou cedendo e, com seu “caráter de ferro”, a agente se tornou poderosa, confrontando os editores, em nome dos escritores.
Acabara a semiescravidão dos escritores, e a graças à luta de Balcells. Os direitos autorais passaram para o controle deles.
“O grande boom” de Balcells “chegou com ‘Cem Anos de Solidão’, em 1967, um fenômeno internacional sem precedentes que permitirá à” agência “adquirir uma aura lendária”.
O editor Josep Maria Castellet aponta que Balcells atraiu os escritores latino-americanos para Barcelona. “Não somente representava os escritores. Cuidava das finanças de Gabo”, por exemplo. Comprou um apartamento para García Márquez em Barcelona e um apartamento para Vargas Llosa em Londres. Ela “criou uma rede de apartamentos para os escritores ocuparem quando estivessem em Barcelona”, sublinha Judith Rama, que trabalhou com a agente. Era “generosa” e “inteligente”.
Isabel Allende diz que Balcells cuidava de tudo e chegava a orientá-la sobre como investir seu dinheiro.
Há uma lenda de que Balcells “tinha” uma frota de táxis para servir seus escritores. Mas Xavi Ayén esclarece que era apenas um taxista Dionisio, que fora contratado para atender unicamente os clientes da agência.
No período natalino, de acordo com Xavi Ayén, Balcells se comportava como Papai Noel. Dava presentes para várias pessoas. “Tenho um sentido grandioso da existência.” Manuel Vázquez Montalbán sugere que ela se comportava como mãe para os escritores marmanjos, que apreciavam a proteção.
Entre os anos 1960 e 1970, a agência de Balcells se tornou “um dos centros mundiais do boom, junto com a Casa de las Américas de Havana”. A agente coloca os escritores em contato, para possibilitar a troca de ideias, e os orienta sobre direitos autorais. “Se esta mulher muda as regras do jogo das relações autor-editor, o faz graças à enorme força que adquire o fenômeno do boom”, postula Xavi Ayén.
Numa carta para García Márquez, Balcells anota: “É extraordinário representá-lo porque um livro seu me permite fazer o que não se pode fazer com ninguém mais, e logo acaba sendo lei”. Os editores passaram a respeitá-la porque ela “tinha García Márquez”.
Vargas Llosa sugere que ser representado por Balcells era como conquistar uma carta de alforria em relação às editoras. “Balcells impõe limites temporais aos contratos e limites geográficos.” Até as traduções passaram a ser arranjadas pela agente, que exigia controle da tiragem e chegava a ir às gráficas para ter informações precisas. Esteve inclusive na Argentina para verificar as vendas e as tiragens dos livros dos escritores que representava. Obrigou o editor portenho da Sudamerica a ajustar as contas.
Balcells também favoreceu escritores novos. Se o editor queria publicar García Márquez, ela só autorizava se ele publicasse autores menos conhecidos. Disse ao editor Mario Lacruz que, se quisesse publicar Graham Greene, deveria publicar “também o primeiro romance de uma chilena desconhecida, Isabel Allende, intitulado ‘A Casa dos Espíritos”. Ele lançou o livro e apresentou a autora como “la chica del boom”. O livro se tornou best-seller mundial.
Dadas as pressões de Balcells, em favor dos escritores, alguns editores espanhóis tentaram boicotá-la. Mas não conseguiram. Ela já era poderosa e não podia mais ser contida. Dobrou, com sua energia extraordinária, os homens que mandavam no mercado editorial da Espanha e de outros países, como a Argentina. Ninguém a iludia com conversa miúda e emocional.
Por que Balcells conseguiu se impor? “Quando se tem um autor como García Márquez, pode-se montar um partido político, instituir uma religião ou organizar uma revolução. Eu optei pela última. Não acredite que foi fácil”, admitiu a agente. Vargas Llosa conta que, “apesar de derramar lágrimas”, a agente “não deu o braço a torcer”. Sob ataque, não recuava. Só avançava. García Márquez sustentou que os escritores eram “roubados” pelos editores e Balcells, como uma paladina, decidiu enfrentá-los — com a cara e a coragem. Os marmanjos, que conspiravam contra a agente, recuaram ante suas pressões, ferocidade e tino comercial (e entendia de leis).
Carlos Barral operou para retirar escritores da agência de Balcells. Tentou convencer Vargas Llosa, que não aceitou abandoná-la. O escritor denunciou que a Seix Barral ficava com 50% das traduções de seus livros. Quando a agente assumiu o controle de seus interesses, e publicou seus livros na Alemanha, o escritor peruano exultou: “Mas, comadre, além de publicar, nos pagam!”
Vargas Llosa ressalta que, com os préstimos de Balcells, os escritores passaram a ganhar mais dinheiro e a trabalhar com mais tranquilidade. No lugar de procurar emprego ou empregos, agora podiam se dedicar exclusivamente à literatura. O que acabou beneficiando também os editores, que se modernizaram e passaram a divulgar os livros de maneira mais adequada. A globalização chegou mais cedo para os editores espanhóis devido às pressões da agente.
Balcells fazia questão de dizer que só trabalhava para os escritores. “Unicamente.” Para ela, os escritores estavam acima de tudo. “Para mim, só há um rei: o autor”, pregou a agente. A obra deveria ficar sob controle dos autores, e não dos conglomerados. É a “garantia de liberdade, independência e dignidade”.
O ideário de Balcells, definido por ela, era o seguinte: “Aspiro a que os autores de êxito se convertam em estrelas economicamente falando, comparáveis a um tenista, um cantor de ópera ou um jogador de futebol. Todavia, há muitos escritores excelentes sem um centavo”.
O escritor israelense Amós Oz disse a Balcells: “Todos os escritores do mundo, os que a conhecem e os que não a conhecem, se beneficiaram de suas ações”.
A agente “oscilava entre a dureza extrema e a generosidade ou afabilidade desbordadas”. De acordo com Vargas Llosa, “intratável na hora de negociar, pode, cinco minutos depois de haver a ponto de morrer ou matar pela minúcia de uma cláusula”, receber, em sua casa, o rival com “presentes e carinhos”.
Balcells tinha o hábito de ajudar não apenas escritores poderosos. Os malsucedidos também recebiam seu apoio.
Ao contrário dos escritores, editores falavam dos “golpes baixos” de Balcells. José Manuel Lara Bosh, do Grupo Planeta, mantinha boa relação pessoal com a agente. Mas ressalvou: “Alguns agentes literários têm demasiado poder na Espanha e isso é uma situação anômala”. Trata-se de uma estocada, não contra “agentes”, e sim contra uma agente. A editora Esther Tusquets, apesar de admitir que admirava Balcells, acrescentou que, em certos momentos, a “odiava”.
Numa festa, Balcells perguntou para Esther Tusquets qual era, para ela, “o escritor mais importante da literatura”. A editora respondeu que era James Joyce. Pouco depois, a agente cedeu-lhe os direitos sobre sua obra. “Gratuitamente! Nunca outra agente do mundo faria isso. Porém quis me tomar ‘Los Cachorros’ de Vargas Llosa.”
Mulher firme, inteligente e pragmática, Balcells tinha suas idiossincrasias. “Durante décadas recebeu informes escritos e em áudio de duas astrólogas italianas.”
Filho de García Márquez, Gonzalo García Barcha diz que “Balcells tinha todos os autores do boom antes que fossem do boom. Quando eram desconhecidos, ela decidiu representá-los. E aí radica a chave de seu êxito”. Fez uma aposta e acertou em cheio.
O crítico Robert Saladrigas afirma que Balcells “deve tudo a Gabo e” a outros autores, mas eles também devem a ela.
García Márquez e Vargas Llosa se tornaram mais conhecidos, conseguindo se entrosar na Espanha e, em seguida, em toda a Europa, depois que decidiram mudar para Barcelona, o que só puderam fazer dado o apoio decisivo e decidido de Balcells. Barcelona se converteu na “capital mundial da literatura latino-americana”.
Carlos Fuentes também caiu sob o encanto de Balcells. O escritor mexicano disse que, dada sua eficiência, todos se encantavam com a agente.
Num aniversário de García Márquez, Balcells perguntou: “O que quer de presente?” O escritor disse: “3 mil dólares”. A agente passou a enviar 3 mil dólares em todos os aniversários de Gabo.
“Eu não tenho amigos, tenho interesses”, afirmou Balcells. “Sou sempre reticente a considerar amigos pessoas com as quais tenho um relacionamento profissional, e nem digo os que são meu principal sustento econômico”. García Márquez perguntou, por telefone: “Carmen, você gosta de mim?” A gente respondeu: “Não posso responder, pois representa 36,2% de nosso faturamento”.
Vargas Llosa conta que, por telefone, Balcells tentava evitar que o editor Roger Klein se suicidasse. Porém, interrompida pelo filho, a agente demorou um pouco a retornar ao telefone. Quando voltou, o interlocutor havia desaparecido. “O pobre Roger Klein se enforcou”, garantiu o autor peruano. Ela desmentiu a história.
No governo socialista de Felipe González, Balcells influenciou a nova redação da Lei de Propriedade Intelectual. Os contratos passaram a ter limites temporais e geográficos. Em 1999, sob o governo conservador de José María Aznar, ela pressionou e conseguiu a aprovação de uma Lei de Propriedade Intelectual “ainda mais favorável aos escritores”.
Superagente literária teve caso com Graham Greene?
Pragmática e empática, Balcells tinha o hábito de enviar caixas de chocolate para os acadêmicos que escolhiam os premiados pelo Nobel de Literatura. Mandava também para as secretárias e conselheiros. A responsável pela comunicação da academia sueca escreveu para a agente literária: “Carmen, you are wonderful”. Aos amigos, ela dizia, sorrindo: “Eles vão se recordar sempre de mim”.
O catálogo da agente literária “mais poderosa do mundo” contava com seis escritores que ganharam o Nobel de Literatura: García Márquez, J. M. Coetzee, Miguel Ángel Asturias, Pablo Neruda, Vargas Llosa e Vicente Aleixandre.
Em 1982, García Márquez ligou, da Cidade do México, e disse a Balcells que precisava comunicar-lhe um “segredo de Estado”: “Carmen, eu recebi uma chamada de um membro da Academia Sueca. Amanhã vão me dar o Prêmio Nobel de Literatura”.
O autor de “Cem Anos de Solidão” e “O Amor nos Tempos do Cólera” acrescentou: “Não podia deixar de compartilhar esta notícia com você”. O escritor frisou que só sua família e Balcells foram avisadas. Ninguém mais. Era uma prova de seu respeito e amizade pela agente literária.
Balcells ficou felicíssima que um dos “seus” escritores, e um de seus melhores amigos, havia faturado o Nobel de Literatura, que garantia fama e mais dinheiro na conta bancária. Ficou com “uma sensação absoluta de triunfo”. Era um sinal que suas apostas literárias haviam dado certo.
Em 2010, vinte anos depois, quando estava em Estocolmo para comemorar outra vitória de seu “time” — Vargas Llosa iria receber o Nobel de Literatura —, seu único filho, Luis Miguel Palomares, ligou e disse que seu pai estava muito mal. Na verdade, já estava morto.
Discreta, Carmen Balcells não disse nada a Vargas Llosa, para não estragar a sua festa. O elegante “gesto de sua amiga” o comoveu.
Como agente literária, Balcells “batalhava com unhas e dentes por seus autores até extremos desconhecidos no setor editorial espanhol”. A maioria dos escritores do boom latino-americano era mesmo de alta qualidade, mas é provável que o sucesso deles tenha chegado mais cedo por causa do empenho da agente literária.
Por isso, para compor uma história do boom, Xavi Ayén percebeu que era imprescindível acercar-se de Balcells. Ela cuidava de tudo de alguns escritores, não apenas de colocá-los numa boa editora e conseguir os melhores ganhos. “Eu anotava todos os recados, conseguia residências para eles, solucionava problemas burocráticos, me encarregava de que sempre tivessem papel e tinta para a máquina de escrever, lhes abria contas bancárias”, relatou a agente literária. Era uma faz-tudo.
Porém, como era pragmática, ao iniciar o relacionamento com um escritor, “primeiro vinha a relação profissional, e depois, devido ao meu caráter, tento solucionar problemas de toda ordem”.
A empresária preferia o termo “cumplicidade”, e não “intimidade”, para definir seu relacionamento com os escritores. No seu escritório, havia um cartaz: “Jamais avec les clientes!” Xavi Ayén é discreto e, por isso, diz, en passant: o britânico Graham Greene teria sido o único “namorado” entre os escritores representados por Carmen Balcells. Ela mesma confessou isto ao jornalista e escritor.
“Mamá Grande” da literatura era visionária
Conhecida como “Mamãe Grande” pelos escritores, por acolher todos eles, inclusive os menos afortunados, Balcells era a “mãe” ou “madrinha” do boom (Dasso Saldívar informa que foi Vargas Llosa quem a apelidou de “Mamá Grande”, referindo-se a uma personagem de García Márquez). Uma “mulher num grupo de homens; eles, escritores — ela sua representante. Uma mulher forte, ambiciosa e visionária que morreu em sua casa, em Barcelona, de um ataque cardíaco, em 20 de setembro de 2015”, aos 85 anos.
Em janeiro de 2016, numa homenagem póstuma, Vargas Llosa disse a frase citada no início deste texto, considerando Carmen Balcells como um ser dotado de um grande talento — o de valorizar e divulgar a obra literária de dezenas de escritores. “Cara, Carmen, tu não acreditava em outra vida, como tampouco eu, mas eu gostaria que, neste noite, ela existisse”, acrescentou o escritor.
Vargas Llosa, que estava acompanhado do filho Álvaro Vargas Llosa, abraçou os dois filhos de García Márquez — o pintor Gonzalo e o cineasta Rodrigo.
Durante a homenagem, o escritor espanhol Eduardo Mendoza relatou que, durante uma greve do setor de transporte de Barcelona, Carmen Balcells enviou um automóvel para “resgatá-los”. “Ter Balcells era viajar sempre na primeira” (classe, por certo).
Com a morte de Balcells, seu filho Luis Miguel assumiu a agência.