Já há mais de 80 anos de seu nascimento, “A Família Addams” continua a envolver o público com suas histórias macabras, bizarras e cômicas. Criada em 1938 como tirinhas para a “The New Yorker”, pelo artista Charles Addams, a família sombria se tornou um símbolo na cultura pop, ganhando espaço em filmes, desenhos e séries, jogos de video games, histórias em quadrinhos e, até mesmo, musicais em teatros.
Todos os membros do clã Addams, e seus respectivos nomes, só se consolidaram até a criação da série da ABC, em 1964. Ao contrário do que se pode imaginar, o artista, Charles Addams, não teve uma infância problemática, traumática ou qualquer coisa parecida para normalizar o macabro. Em entrevistas, à sua época, ele contou ter tido uma infância feliz, com sua família amorosa, em Westfield, no estado de Nova Jersey. Mas ele sempre gostou de visitar cemitérios, invadir casas abandonadas na vizinhança e dar sustos na avó.
E foi de uma mente bem-resolvida que surgiu essa sátira da tradicional família estadunidense, formada pelos pais, Gomez e Mortícia, os filhos, Wandinha e Feioso, o mordomo Tropeço, o tio Fester, primo Itt, vovó Bruxa e o Mãozinha. Na nova série da Netflix, criada por Alfred Gough e Miles Millar, com produção executiva e direção dos quatro primeiros episódios pelo icônico Tim Burton, a personagem central é Wandinha, uma das mais famosas da família por sua falta de emoção, desprezo social e prazer pela tortura.
Interpretada pela jovem Jenna Ortega, Wandinha tenta matar alguns valentões do colégio logo no primeiro episódio, jogando piranhas dentro da piscina em que eles estão treinando polo aquático. Ela tenta vingar Feioso, que foi amarrado e preso dentro de seu armário. “Eu sou a única pessoa que pode torturar o meu irmão”, diz. Nas cenas seguintes, ela é conduzida pela família até o internato Nunca Mais, uma escola para excluídos em uma cidade, chamada Jerichó. O colégio é uma espécie de Hogwarts, onde adolescentes com poderes sobrenaturais aprendem a controlar suas habilidades.
Nada sociável, Wandinha tem que dividir o quarto com Enid (Emma Myers), uma menina doce, colorida e amorosa, o exato oposto da primogênita Addams. Mesmo assim, ela irá descobrir em sua colega de dormitório uma fiel escudeira. Ao longo dos capítulos, assassinatos misteriosos ocorrem em Jerichó e Wandinha, que tem visões reveladoras quando encosta em pessoas ou objetos específicos, decide investigar. Não demora para que a protagonista esteja no centro de todas as polêmicas da série.
Ao longo de sua aventura para descobrir o autor dos assassinatos, Wandinha também recebe a revelação de que tem uma missão em Nunca Mais e que deve cumpri-la, mesmo que para isso tenha que confrontar o espírito do fundador da cidade de Jerichó, o terrível Joseph Crackstone. Além disso, também terá de ajudar o próprio pai, Gomez, a provar sua inocência em um assassinato ocorrido há décadas atrás.
Com episódios cheios de acontecimentos, mistérios, humor sarcástico e criaturas mitológicas, “Wandinha”, entrega uma mistura de universo de “Harry Potter”, “Sabrina” e “O Estranho Mundo de Jack”. Um verdadeiro entretenimento do início ao fim, a série gótica com sabor de Halloween é um delicioso vício para devorar em apenas um fim de semana. Filmado na Romênia para alcançar os visuais sombrios a la Dracula, a série de Tim Burton não se preocupa em seguir o politicamente e pode até chocar os mais conservadores. É preciso uma pitada de sadismo para apreciar essa comédia aterrorizante.
Série: Wandinha
Direção: Tim Burton
Ano: 2022
Gênero: Comédia
Nota: 10/10