Você precisa assistir, novo da Netflix é o mais assistido do mundo na atualidade e um dos mais caros da história Divulgação / Netflix

Você precisa assistir, novo da Netflix é o mais assistido do mundo na atualidade e um dos mais caros da história

O escapismo é uma forma dos seres humanos buscarem algum conforto diante de uma realidade insatisfatória ou desagradável. É uma ferramenta em nosso cérebro que nos foi concedida pela biologia para conseguir, muitas vezes, sobreviver ao insuportável. Em “Náufrago”, o personagem de Tom Hanks, Chuck Noland, que está há muito tempo perdido sozinho em uma ilha deserta, cria em uma bola de vôlei um amigo imaginário, chamado Wilson. Se no filme isso foi um product placement, uma estratégia de marketing para promover a marca Wilson, para o personagem central foi um escapismo, uma medida imaginativa necessária para sobreviver à solidão.

Em “Bonequinha de Luxo”, a personagem de Audrey Hepburn, Holly Golightly, escuta de seu interesse romântico, Paul Varjak (George Peppard), que não importa para onde ela corra, jamais poderá fugir de si mesma. Ao mesmo tempo que nossa imaginação nos permite escapar temporariamente da realidade, é preciso encarar a vida. Não há como nos livrarmos de nossa própria pele. Ninguém poderá ocupá-la por você e você não poderá ocupar a de outra pessoa, por isso, devemos tentar nos sentir o mais confortável possível dentro dela.

Em “Terra dos Sonhos”, filme inspirado em tirinhas publicadas por Winsor McCay nos jornais “New York Herald” e “New York American”, acompanhamos Nemo (Marlow Barkley), uma garota de 11 anos, que viveu toda sua vida em um farol com seu pai, Peter (Kyle Chandler). Até que em uma noite de tempestade, ele é chamado para auxiliar uma embarcação, mas acaba desaparecendo no mar e é dado como morto. Nemo, que na história original era menino e no filme é representada por uma menina, é levada a morar com o tio, o introspectivo e sério Philip (Chris O’Dowd), com quem não sente nenhuma conexão. Até que Nemo descobre que por meio de seus sonhos pode, talvez, reencontrar seu pai.

Dentro deste universo fantasioso, Nemo conhece um antigo amigo excêntrico de seu pai, Flip (Jason Momoa), um aventureiro inconsequente procurado pela polícia do sonho por suas incontáveis confusões. Nemo também é acompanhada de seu bichinho de pelúcia, Porco, que ganha vida sempre que ela sonha. Após a menina encontrar o mapa deste mundo, eles se lançam em uma aventura para reencontrar o pai de Nemo.

Enquanto filme infantil, a jornada de Nemo leva o espectador a diversos mundos criativos e insanos que não fazem o menor sentido. É justamente esse choque que provoca em quem assiste reações de surpresa, graça ou admiração. Conduzidos pela pequena Marlow, que esbanja sensibilidade e uma aura de maturidade (algo como Saoirse Ronan em “Reparação), atravessamos dimensões que incluem um saguão requintado de restaurante, um salão de dança latina, uma cidade de prédios de vidro, um penhasco com galinhas gigantes voadoras e um chalé na neve que leva para o mundo dos pesadelos.

Sob a perspectiva do subconsciente, o filme fala sobre uma menina em depressão e enfrentando o luto. Nemo foge da escola para dormir e, quando está em casa, também desvia do contato com o tio para dormir, um dos sintomas da depressão. Sabemos que os sonhos, a imaginação e a criatividade são formas de escapismo e adentrar este mundo para encontrar seu pai é uma forma de Nemo fugir da realidade de que Peter não vai mais voltar. A policial que persegue Flip a todo momento alerta Nemo de que é preciso deixar o passado para trás. Se por um lado, temos uma aventura divertida e emocionante em um mundo fantástico, por outro, temos a triste história de uma menina em busca da superação do luto.


Filme: Terra dos Sonhos
Direção: Francis Lawrence
Ano: 2022
Gênero: Aventura
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.