Indicado ao Oscar, um dos melhores filmes de 2022 está no Amazon Prime Video e você ainda não viu Divulgação / Oslo Pictures

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Indicado à Palma de Ouro em Cannes e ao Oscar 2022 como melhor roteiro original, “A Pior Pessoa do Mundo”, de Joaquim Trier, é a crônica da vida de Julie (Renate Reinsve), uma jovem indecisa que está em busca de seu lugar no mundo. A história se passa no decorrer de quatro anos de sua vida, na virada dos 20 para os 30 anos e busca trazer reflexões sobre o amadurecimento, as escolhas, as mudanças da vida, que é um emaranhado de complexidades e, ao mesmo tempo, simplicidades.

No começo do filme, somos apresentados à protagonista, uma estudante de medicina que logo joga tudo para o alto. Julie decide terminar com o namorado e começar o curso de psicologia. Segundo ela, é apaixonada pela mente humana e deseja auxiliar os outros a aperfeiçoá-la ao invés de ser como um médico, uma espécie de carpinteiro dos corpos. Não demora para que ela se sinta novamente insatisfeita e decida por trabalhar em uma livraria e tirar algumas fotos por hobbie. Julie conhece o talentoso Aksel, um cartunista controverso que publica desenhos machistas, com quem engata um duradouro relacionamento.

Durante um tempo, a relação é uma espécie de farol para Julie, que parece a qualquer momento prestes a naufragar em um mar de incertezas e inseguranças. Há suas dúvidas sobre a maternidade, a carreira, o romance com Aksel. Afinal, quem nunca se sentiu obrigado pelo tempo e pela idade a se tornar maduro e a tomar decisões? Nunca nos transformamos em adultos, é a vida quem nos obriga a ser. No fundo, a alma clama por menos responsabilidades e seriedade e um pouco mais de graciosidade e diversão.

Mas optar pela própria felicidade, muitas vezes significa não dar ao outro o que ele quer. Nos sentimos egoístas, culpados. Nos sentimos as piores pessoas do mundo. Apesar de Aksel amar profundamente Julie, eles estão em diferentes degraus da vida. Ele é mais de uma década mais velho e busca uma família, estabilidade. Julie ainda encara o amor como uma aventura. Ela não se decidiu sobre a própria carreira, quem dirá sobre ter filhos. Sentindo que é Aksel o protagonista do seu mundo, quem realmente toma as rédeas, ela decide dar um fim ao relacionamento após conhecer o barista Eivind (Herbert Nordrum) em uma festa na qual Julie entrou de penetra.

A noite em que ela e Eivind se conhecem é quase que onírica. Julie decide sair de um evento de divulgação do trabalho de Aksel e simplesmente ir entrar em uma festa de um desconhecido. Lá, ela provoca um grupo de mulheres sobre a maternidade, ela dança como se fosse a dona da pista e fuma maconha com Eivind, sem que eles revelem seus nomes. É um momento mágico e que não apenas determina a condenação da relação com Aksel, mas um retorno à busca de si própria.

É óbvio que o cotidiano também irá minar a convivência dela com Eivind, como ocorre com todos os casais. Mas também irá fazer com que ela retome o protagonismo de sua vida. Muitas vezes nos pegamos pensando em como Julie é infantil, emocional e instável. No fundo, todos temos nossos momentos de frustração, de querer chamar atenção, de dizer bobagens que jamais deveriam ser ditas em voz alta, de refletir sobre quem somos, de provocar brigas sem sentido.

Com uma atuação cativante e envolvente, Reinsve — que levou o prêmio de melhor atriz em Cannes por este papel — nos conduz por cada camada de sua personagem, nos ajudando a, também, encontrarmos com partes de nós mesmos. O filme de Trier começa leve como “Frances Ha”, mas vai tomando uma forma mais densa e dramática e, em alguns momentos finais, nos sentimos devastados pelas curvas inexoráveis da vida, tsunamis a abalar nossas aparentes e seguras estruturas. Um filme para rir, chorar, se autoexaminar e pensar sobre a vida.


Filme: A Pior Pessoa do Mundo
Direção: Joaquim Trier
Ano: 2022
Gênero: Drama
Nota: 10/10