Novo filme da Netflix é uma viagem divertida aos anos 1990 e prova que ninguém nunca sai dos 18 anos Kim Simms / Netflix

Novo filme da Netflix é uma viagem divertida aos anos 1990 e prova que ninguém nunca sai dos 18 anos

A adolescência é um momento de muitas transformações e, consequentemente, muitas angústias. Sua aparência muda, a sociedade começa a te responsabilizar pelas suas atitudes, embora seu sistema nervoso ainda não esteja totalmente amadurecido, as expectativas e responsabilidades sobre você aumenta e a noção da seriedade e das consequências começa a se formar, mostrando que o mundo é, na realidade, não um lugar fantástico, mas assustador.

Você é um semiadulto, mas ainda se sente uma criança. Emoções esquisitas começam a surgir, como paixões, desejos, depressões, ansiedades, autocrítica. É, sem dúvidas, um dos momentos em que nossa autoconfiança está mais abalada. Alguns mais sortudos, com melhor aparência e mais dinheiro, acabam usando esse tipo de “poder” para praticar bullying, exercer influência e ser popular. Mas, claro, isso é para poucos.

Os filmes adolescentes surgiram em meados dos anos 1950 para mostrar toda a confusão, rebeldia e furor dessa fase. Impulsionado pelo rock’n’roll e o fim da Segunda Guerra, a ressignificação da adolescência ganhou reprodução nos cinemas. Isso, porque antes haviam mais cobranças. As meninas se casavam com 13, 14, 15 anos. Os meninos iam para os campos de batalha ou começavam a trabalhar desde muito cedo para ajudar no sustento da família. Mas, com o fim da guerra, os pais passaram a tentar conservar a infância por mais tempo, influenciando os filhos a se dedicarem mais aos estudos e coisa e tal, segundo explica alguns periódicos, como “The Guardian” e “Far Out Magazine”.

Os anos 1980 foram muito especiais para o cinema adolescente por causa de um diretor chamado John Hughes, responsável por sucessos como “Gatinhas e Gatões”, “A Garota de Rosa-Shocking”, “Clube dos Cinco”, “Curtindo a Vida Adoidado” e outros mais.  Foi uma verdadeira revolução que trouxe uma febre de comédias adolescentes durante os anos 1990 e 2000. Essas produções aparentemente bobinhas e que não ganham prêmios importantes, impulsionam a carreira de jovens atores e marcam a história de todas as pessoas. Vai dizer que sua vida não foi marcada por uma, duas ou três comédias adolescentes? Alguns filmes se tornaram verdadeiros ícones da cultura popular, como “10 Coisas Que eu Odeio em Você” e “Meninas Malvadas”.

“Justiceiras”, de Jennifer Kaytin Robinson é uma verdadeira homenagem aos filmes que foram marcos da nossa adolescência. Várias cenas são referências ou reproduções de clássicos. Se você é fã de carteirinha do gênero, vai saber reconhecer quando ver. Alguns exemplos é de quando uma das protagonistas, Drea, vai até um ateliê de arte com seu crush, Russ. Lá, eles brincam com balões de tintas: cena similar à de “10 Coisas Que eu Odeio em Você”. Na cena em que Drea e Eleanor estão no carro cantando é claramente uma referência ao final de “Segundas Intenções”, que o protagonista Sebastian também escuta música no carro.

O contexto do filme é bem similar com as produções que já conhecemos do gênero. Adolescentes que sofreram algum tipo de abuso no ensino médio e decidem se vingar de seus agressores. A história de “Justiceiras” é quase uma cópia de “Meninas Malvadas”. Espera, na verdade é uma homenagem. As protagonistas Drea e Eleanor são duas garotas que foram humilhadas no colégio e agora querem se vingar. Com personalidades completamente diferentes, elas se unem para perseguir seus algozes. No entanto, as coisas saem um pouco de controle, porque elas se tornam obcecadas demais com suas ‘vendetas’.

Mas Jennifer Kaytin transforma “Justiceiras” em um jogo. Não apenas entre os personagens, mas também com a cabeça do espectador. Inúmeras reviravoltas acontecem no roteiro, tornando-o o mais imprevisível possível, dentro de uma produção do gênero. Apesar de um elenco jovem, são nomes conhecidos e já amados entre o público, como Camila Mendes, Maya Hawke, Austin Abrams e Sophie Turner. A última, infelizmente, teve um papel pequeno demais para seu talento.

“Justiceiras” é uma boa obra do gênero e quase chega a competir com “Meninas Malvadas”, um verdadeiro clássico. O que falta, exatamente, para chegar no mesmo nível, talvez seja o carisma de seus personagens e diálogos mais marcantes. No entanto, a produção vence por renovar os temas, tratando de assuntos mais atuais, como feminismo, slut shaming e sororidade. O filme de Jennifer Kaytin Robins é uma excelente opção para quem curte filmes adolescentes e quer se divertir despretensiosamente.


Filme: Justiceiras
Direção: Jennifer Kaytin Robins
Ano: 2022
Gênero: Comédia Adolescente
Nota: 9/10