Bege não é chique. É chato

Bege não é chique. É chato

Imagina um mundo inteiro bege, paisagens sépia, tudo em tons pastéis. Agora imagina uma multidão bege. Isso mesmo. Gente insossa, sem pulsação, sem brilho nos olhos. Vestem preto e branco — e bege — para não errar no tom. Falam baixinho, não opinam em nada, não tomam partido. Não reclamam, mas também não elogiam. Não sobem nas tamancas, não perdem as estribeiras, não soltam os cachorros. Não gargalham, não abraçam apertado, não gritam na hora do gol.

Gente sem cor. Essas pessoas estão ali, fazendo apenas volume, populando o mundo com suas caras de paisagem e aperto de mão mole. Ser bege não é ser chique. É ser chato.

Não sei você. Talvez você seja assim, ou talvez você seja igual à mim. Eu gosto de cores. Sempre gostei. Gosto de entusiasmo, de coisas vivas, de calor humano, de avidez. Sou aquela que não segura o choro e muito menos o riso. Sempre tenho alguma coisa a dizer sobre qualquer assunto. Uso batom vermelho, bolsa amarela, unhas azuis. Se estou com raiva, sai de baixo, mas se estou feliz, ninguém me segura. Eu me demonstro, acho que é isso.

Mas há pessoas que não têm emoção, nem sangue nas ventas. Gente fosca, gente bege. Que não se altera, que não se revolta, que não desmorona e não se mostra. Gente que não faz barulho. Sonsa, como dizia a minha avó. Porque nós nunca sabemos o que estão pensando, o que estão sentindo, querendo… Murmuram num mesmo tom de voz. Sem expressão, parece que olham ser ver. Vivem no mundo do “tanto faz”. E não fazer escolhas é bege.

Num mundo bege, estranho mesmo é ser intensa, falastrona, colorida, expressiva, que se mete, que mete os pés pelas mãos.

Enfim, não precisa ser a hipérbole em pessoa, mas água morna ninguém aguenta. Gente que não fede nem cheira, que não acrescenta, que não tem propósito. Sem vontade, sem vida. Gente sem tesão. Bege. Chata. Insípida. Ainda bem que existem pessoas doces, apimentadas, ácidas. Com almas coloridas, com risadas escancaradas, que chegam chegando. São os salvadores da mesmice.

Se ser bege é ser chique. Me desculpe, meu bem. Eu sou mais a breguice.

Karen Curi

é jornalista.